Sou paulista. Apesar de ter perdido muitas das características da cidade, São Paulo ainda é meu berço. E tem alguns hábitos que são especialmente difíceis de mudar. Um deles é a pizza.
Umas das coisas que me conquista quando chego num trecho novo é a pizzaria. É uma atração imperceptível no momento de chegada, mas - pelo que me lembro - em toda cidade que chego o primeiro restaurante que nos dá as boas-vindas é a pizzaria. Acredito que é uma comida que por pior que seja dificilmente será horrível. Já comi muita pizza ruim, porém nenhuma que fosse intragável. E mais que um hábito, vejo a pizza como tradição.
Lembro-me das viagens que minha família fazia enquanto eu era ainda muito pequena e a pizza sempre aparece. Lembro-me em casa, minha mãe fazendo a massa e eu ajudando a rechear. Lembro-me adolescente dividindo uma pizza com o pessoal da rua - no Habbib´s - na primeira vez que saímos sem os pais. Lembro também da pizza da faculdade que matava a fome e dava energia para a jornada da noite. As pizza - dúzias de pizzas - pedidas nos encontros para jogar truco e beber cerveja. Aquela pedida no trabalho e devorada sobre o computador. A pizza cortada "a francesa" (em quadradinhos) para ser comida como tira-gosta enquanto jogamos Imagem e Ação. A pizza solitária enquanto meu marido viaja ou trabalha. A pizza das reuniões nas pizzarias - incontáveis pizzarias.
Trabalho, doença, casamento, aniversário... Tudo é motivo, desculpa, razão. Companheira de todas as horas. Divide alegrias e tristezas. Cansaço, mal humor. Risadas e palhaçadas. Corre numa paralela sem interferir no que acontece. E nos nivela como seres humanos. Comemos com as mãos ou não. Pagamos uma pequena fortuna ou não. Não conheço quem nunca tenha comido. Do resto de pizza embrulhado na pizzaria que é deixada para um morador de rua e da pizza de grife, com chef especializado e recheio que vale ouro.
Ela não tem erro. E não tem dia, quero morrer quando encontro uma pizzaria fechada na segunda-feira - quem é que inventou isso?? Ela nos salva nos momentos de aperto, nos conforta na hora da fome. E nem quero falar dos seus sabores - que cada um tem o seu e já inventou pelo menos mais um. Salgada ou doce. Na pedra, na grelha, na brasa, no microondas, no forno do fogão da cozinha ou do quintal. Direto da geladeira (ai ai). Fria no café-da-manhã. Cura a ressaca, conforta o corpo, alimenta o espírito. Pizza tem história, tem vida.
Em Três Lagoas tinha a pizzaria no fundo quintal duma casa, com mesas e cadeira de plástico, cerveja gelada a céu aberto e na rua da igreja. Em Bagé tinha a pizza do casarão antigo - em frente à igreja matriz, também -, acompanhada de vinho tinto, quadrada, ou melhor, vendida por metro e feita no forno elétrico. Aqui em Mucuri tem uma pizzaria de um paulista que além de ter pizza boa o ambiente é uma delícia: o local é todo construído com material de demolição e responsabilidade social. Tijolo e madeira harmonizam com as árvores que foram mantidas no terreno. Mesas e cadeira feitas com restos de madeira e pedra. Paixão a primeira vista. Foi minha primeira refeição em Mucuri e sei que será a última.
Seguindo a tradição, além da primeira refeição, toda última refeição quando deixamos uma cidade é essa pizza. De preferência em casa para a Maria poder comer um pedaço. E assim nos despedimos de mais um trecho, para poder inaugurar o próximo com o mesmo glamour, a tal da pizza.
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