domingo, 3 de julho de 2011

Fumaça

Sinto o cheio que vem de fora. Madeira queimando. E não é qualquer madeira, é de lareira.

Vejo a fumaça subindo em direção ao céu de mesma cor. Quase não se vê a diferença dos tons. Chove e faz frio. E assim ambos se revezam - um brigando com o outro para ver quem é mais forte, quem ganha. Dias úmidos e frios. Vidros embaçados.

Entre a cama, o computador, a TV e os livros preencho meus dias. Os banhos são demorados. Gosto de ver o vapor saindo pela porta e encontrando o ar frio. Fumaça. Branca e leve. Que flutua pelo corredor.

Tem também o vapor que sai da xícara de chá. Dentre os diversos sabores escolhidos no Mercado Central, dois ou três sempre são especiais. O cheiro do capim limão. O gosto da camomila. Fumaça com aroma. Que penetra as narinas. Que chega à cabeça e trás lembranças.


Fumaça que sai da boca quando falo. Que evapora das panelas de comida. Do prato de sopa. Do queijo derretido no sanduíche. Do café fresco.

Frio e calor. Toda essa diferença de temperatura que mantem o silencio lá de fora. Não vejo ninguém com coragem para andar na rua. Nem carros. Nem motos. Os cachorros estão em suas camas. E seus donos também devem estar.

Aqui dentro tudo é paz. Escuto apenas a chuva que vai e volta. Sinto apenas o frio que vai e volta. E lá fora só a fumaça sobrevive. Lutando para ganhar espaço entre os pingos grossos. E chegar ao céu.

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