Vida de Trecho
uma parte do mundo é nossa morada, a outra parte é nosso quintal. Zé Geraldo
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Dor
A inspiração veio do professor da academia: dor é a fraqueza querendo sair do corpo.
Naquele momento eu só sorri. Aquele sorriso meio amarelo, desconcertado, entre uma pedalada e outra. Sem muitas condições de raciocínio.
A concentração no esforço. A respiração forçada. A mente gritando com o corpo: vai, você consegue!
E então você acha que chegou ao seu limite. Mas não. É possível mais um pouco. Mais tempo, mais carga, mais velocidade. Mais suor. E finalmente encontra a dor.
E como em tudo na vida existe a fronteira - as vezes tênue - entre o que o é suportável ou não. Dependendo do seu estado de hipnose com o exercício você nem se dá conta do que ela faz.
Lembro-me de uma luta do Minotauro em que o adversário torce o braço dele até quebrar. E ele mal percebe. Qual o limite desta dor? Concentração tamanha que não permite sensatez.
Para mim é como meditação. A cabeça esvazia. Os sentidos aguçados. Música alta. Coração acelarado. Você olha para frente. Impõe sua cadência. Fecha os olhos e repete o mantra: só mais um pouquinho... só mais um pouquinho... e 45 minutos podem desaparecer rapidamente.
Pensando agora, percebo como o a atividade física é hipnótica. E em quanto a nossa mente tem poder sobre nosso corpo. Tá bem, todo mundo sabe disso. Porém, não pratica.
Tudo é uma questão de querer para poder. O poder de definir metas e alcançá-las. E não é a dor que vai te impedir – nem a física e nem a mental.
Porque a dor metal pode ser ainda maior do que a física...
E dor é fraqueza mesmo. Ele tem razão! Músculos fracos, mentes fracas. Tudo que não suportamos se transforma em dor.
Novamente como tudo na vida: o corpo se acostuma com essa dor. E pede mais.
Praticar o exercício e não sentir dor é como se não valesse o treino. E 24 horas depois lembrar que você exagerou um pouco é extremamente prazeroso. Porque a dor também traz prazer.
Não vou levantar a bandeira sado/masoquista, pois nada disso tem a ver comigo. Mas a dor proveniente do exercício físico é viciante.
Ai você descobre que a melhor forma de aliviar aquele dor é com outra bateria de esforço...
Com isso, o ciclo se fecha. E você precisa cada vez mais daquilo. Para relaxar ou para estressar. Para esquecer ou para lembrar. Para se sentir vivo ou morto. Para sentir o suor brotar por todos os poros. Para sentir o arrepio da brisa fresca. Para sentir...
Simplesmente para sentir. Todas as outras coisas. Além da dor.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Cidades
Já rodei muito por ai. Conheço muitas capitais, algumas praias desertas – ou quase, destinos de aventura, metrópoles que não dormem e uma infinidade de culturas. Mesmo dentro de um mesmo país do tamanho do Brasil temos uma diversidade absurda de cidades.
O trabalho me levou por 3 interessantes modelos de capitais dentro de um mesmo mês e quero compartilhar minha experiência...
Comecei em Porto Alegre, onde o povo tem o seu vocabulário próprio como qualquer outro extremo: como todos sabem o pão francês é cassetinho – já começa por ai! E tem mais um zilhão de outros itens que precisam de tradução para alguém de fora. Passei por SP e sua infinidade de ‘gringos’, meus amigos queridos e um tempo maluco. Terminei em João Pessoa- na Paraíba, para os desavisados – num clima quente e cheio de vento que impede qualquer mulher de se manter maquiada e penteada por muitas horas.
Mas o que quero falar é dos cenários. Para quem gosta de observar o que está a sua volta, digo que foi um mês um tanto cheio de surpresas.
Chegar a Porto Alegre num domingo chuvoso é chato. Silencioso, demorado e muito, muito chato, o domingo se arrastou por horas cinzentas. Porto Alegre já era uma velha conhecida, mas mesmo assim o tempo era cinza e meu humor estava exatamente da mesma cor. Dias depois o sol resolveu aparecer e o mundo todo sorriu.
Cheguei ao quarto do hotel num fim de tarde e de cara com o por do sol. Afirmo que um dos mais belos que me recordo... Eu estava no alto, mais precisamente no 11º andar e presenciei os últimos minutos do brilho rosa-alaranjado sumindo atrás do rio Guaíba. Fiquei alguns segundos parados diante do poder daquele astro. Quente, poderoso. Um colorido que não aquece apenas o corpo, mas repõe energias internas, ilumina o interior da cabeça e me faz lembrar a preciosidade da vida.
Não consigo me lembrar do que passou pela minha cabeça, mas o encantamento era hipnótico. Apesar de não me sentir em casa naquela cidade, por alguns segundos esqueci tudo e fiquei em silêncio no meio do nada. Perdida. Ou acolhida?
De Porto Alegre para São Paulo e mais um domingo. Mesmo para quem gosta de agito, SP ainda pode impressionar. Ainda mais na Av. Paulista. Desta vez o fim de tarde estava quente e todos aqueles bares cheios de pessoas semi-embriagadas. Uma multidão passeia pela rua, uns com seus namorados, outros com cachorros, outros ainda com crianças. Prédios que brotam por todos os lados, ônibus, motos, carros, metrô e por um momento sinto o conforto de estar em casa. São Paulo já não é mais minha casa há alguns anos, mas aquele ar quente e parado me trouxe recordações dum tempo que eu vivia fazendo tudo àquilo naquele lugar.
E meu coração de encheu de nostalgia. Meio melancólica acabei por me sentir solitária, como uma intrusa num mundo que não te pertence mais. Pareceu até outra vida. Como se os tempos de Av. Paulista tivessem acontecido com uma outra Valeria. Transformada pelas lembranças, senti meu olhos úmidos. Mistura de cheiros e sabores. Lembrança das noites passadas naquelas calçadas. Os namorados e os cinemas. A juventude meio rebelde. E aquele ‘maldito’ boteco Opção – que tem exatamente a mesma atmosfera há sei lá quantos anos. Maldito no sentido bom da palavra, se é que é possível.
E por fim João Pessoa que me abraçou com o vento e me lambuzou de maresia. Me acordou todas as manhã – as 5 horas! – com o sol inundando o quarto. Que me permitiu trabalhar de vestido e sem meia calça. Preencheu meu ser de alegria e de suas comidas típicas – e fortes! Com o sotaque arrastado. Com a água quente saindo das torneiras. Com a sensação de já ter estado naquele lugar, mesmo sem nunca ter pisado na cidade antes. A visão do mar e as variações de verde. Cada hora do dia um verde diferente – às vezes turvo, às vezes claro.
O vento forte e contínuo que bagunça a roupa, que embaraça o cabelo e que carrega areia para todo canto. Vento impressionante, incansável. Que provoca arrepios. Que grita durante a noite e refresca os dias. E então a imagem final – na ultima noite – é de uma lua refletida na água do mar. Prateando as ondas, acinzentando a areia. As luzes dos barcos espalhas ao longe. O vento que leva e traz as nuvens que escondem a lua e então, de novo trazem seu brilho. E mais uma vez me sinto mole, boquiaberta. Parada. Com aquela sensação de não pertencer aquele lugar, mas com uma nostalgia amiga. Como se tudo aquilo fizesse parte de mim.
*escrito em setembro/2012
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Avião
É a primeira
vez que escrevo dentro de um avião. Nunca usei o caderno, a agenda ou qualquer
outro 'dispositivo' de escrita. Ok, talvez umas palavras cruzadas nas viagens
mais longas... Mas escrever mesmo, pensar, escrever, apagar, etc, é a primeira
vez.
Normalmente as
viagens são curtas, Rio-SP ou SP-Curitiba, até Porto Alegre-SP não justificam o
computador ou a caneta e o papel. Naquelas internacionais me policio para
dormir, afinal são longas, cansativas e prometem dias de muito esforço nos
novos destinos. Às vezes me pego achando que a gente gosta mesmo de sofrer,
afinal as férias já começam cheias de atrapalhações, atrasos, horas de espera e
um interminável voo internacional.
Desta vez a
vigem é um tanto mais longa, apesar de nacional: João Pessoa-Brasília e depois
na sequência Brasilia-SP. Tinha uma opção João Pessoa-Guarulhos, mas a opção de Guarulhos é só se não tiver outra opção.
Nunca tive medo
de entrar num avião, mas de vez em quando penso que pode dar alguma coisa
errada. Não é paranóico, nem nada temível, apenas uma pontinha de insegurança
rodeada por nuvens, ar condicionado, comissários excessivamente simpáticos e um
leve balanço enjoativo. Os ouvidos tampados também causam um ligeiro
desconforto.
O comandante
está falando um monte de coisas neste momento, do tipo: previsão de pouso às
9h35, céu claro, temperatura de 20 °C, velocidade de 850 km/h e perdi o resto.
Pode parecer agradável, mas porque que eles ficam repetindo estas informações a
cada 15 minutos? Já é a terceira vez que ele me diz a temperatura de Brasília.
Eu bem que
precisava dormir... Despertar as 5 da manhã definitivamente não é o meu esporte
predileto, mesmo que isto inclua voltar para casa depois de 3 semanas trabalhando
em cidades diferentes pelo Brasil. E também tem a questão do sol brilhando no meu
rosto, pois meu amigo da janela fica olhando para fora como se nunca tivesse
voado. Tem também este ar insuportavelmente gelado – não entendo esta
necessidade humana de gostar de frio!
Acho que rola
também um tantinho de ansiedade de chegar logo em casa. Faz quase um mês que
não vejo meu marido. Nem minha casa. Saudade da minha rotina, das minhas
plantas, da minha cachorra, da academia e – o mais importante – da minha cama!
Com a idade começo a sentir os efeitos de uma noite mal dormida: os olhos
profundos, levemente arroxeados entregam minha falta de adaptação ao colchão de
molas afundado.
Chegou a hora
do lanche. Nos voos mais curtos é até ofensivo o tamanho do sanduiche, menor
que um finger sanduiche – sim,
aqueles do tamanho de um dedo. Melhor assumir logo que não vale e distribuir os
cardápios para as vendas abusivas: uma lata de refrigerante e um pacote de
batata (do tamanho da palma da minha mão) costuma custar R$10. Hoje o café da
manhã até que foi bonzinho: torrada Bauducco, wafer ‘sabor’ chocolate (sabor?
Socorro!), geleia de amora e POLENGUINHO! Fiquei muito feliz com este
Polenguinho. Suco de pêssego acompanha o cardápio – mas pode ser coca-cola, se
você for viciado. Neste momento tem farelo de wafer por todo o teclado...
Fiquei com ele e com o polenguinho. Como eu não sabia o que me esperava,
comprei 2 pãezinhos de queijo no aeroporto. E como temos outra perna até SP,
devo ter outra oportunidade de experimentar as 'delícias' da TAM.
É engraçado como voar pode parecer tão
monótono. Se não fosse pelo barulho a sensação de estar parada no mesmo lugar
pode confundir o cérebro. Nem aquelas tremidinhas comuns dos dias limpos
passaram pelas asas desta aeronave. Tenho uma curiosidade imensa em saber da onde
vem tanto barulho: será das turbinas, do ar condicionado, do ar sendo cortado?
Será que na primeira classe das aeronaves asiáticas também tem este barulho
todo? Tanta tecnologia com espaços exclusivos e menus mirabolantes e este
maldito barulho não silencia? Não sei, nunca tive oportunidade de estampar o
meu corpinho numa poltrona completamente reclinável da primeira classe.
Agora vou tentar ler aquela revista amassada e enrugada por algum passageiro descuidado. Ou fuçar no fundo da bolsa para achar o livro da vez – em 3 semanas de táxis, aeroportos e hotéis já se foram 4 livros. E esperar pelo pouso suave num aeroporto lotado no centro-oeste brasileiro. Boa viagem pra vc tb!
Agora vou tentar ler aquela revista amassada e enrugada por algum passageiro descuidado. Ou fuçar no fundo da bolsa para achar o livro da vez – em 3 semanas de táxis, aeroportos e hotéis já se foram 4 livros. E esperar pelo pouso suave num aeroporto lotado no centro-oeste brasileiro. Boa viagem pra vc tb!
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Hotel
Lá fora um rio corre entre a chuva. Luzes dos carros e das calçadas.
No prédio ao lado ainda tem gente trabalhando: da para ver uma mesa de reunião, três pessoas conversando e quatro computadores. Pessoas e seus computadores... Deve ter também uma porção de telefones, mas isso não dá para ver.
Lá no alto tem uma academia: muitos homens suados num espaço tão pequeno. Será que as mulheres que viajam não usam academia?
Lá embaixo o lobby está cheio. Dois recepcionistas dão risada de algum comentário sem sentido que o hóspede falou. Circulação de pessoas que chegam de uma jornada e que saem para outras.
Entram e saem apressados. Uma loira grandalhona lê uma revista de moda sentada num sofá. Ela tem 3 bolsas: uma deve ser a bolsa da carteira e dos objetos cotidianos, outra bolsa deve conter um laptop e um caderno ou algumas folhas. A terceira não sei para que existe, não é grande o suficiente para armazenar uma troca de roupa e nem pequena o suficiente que possa caber dentro das outras duas.
O bar tem grupos sorridentes e levemente alcoolizados. Alguns petiscam uma besteira qualquer.
Os elevadores dizem o de sempre: dia, hora, previsão do tempo, horários que você deve saber, serviços que você deve conhecer.
Não sei se é por ter trabalhado num parecido com este, mas sinto que conheço estes espaços e estas pessoas. Os semblantes são velhos conhecidos. O cheiro é característico. As vozes são comuns. Sotaques e linguas misturadas a música ao fundo. Uma sirene na rua traz a cor e o som através da fachada. As luzes de dentro são neutras aos olhos. Toda a rotina é um sistema seguro para meu ser. Uma engrenagem que roda sem esforço, que tem vida própria, que se alimenta de seres como eu.
Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo e ainda assim estaria aqui.
Olho e vejo um quarto de hotel. Qualquer um daqueles que já estive. A lazer, a trabalho ou por qualquer motivo.
Lá fora um corredor cheio de portas. Silêncio, e então uma porta bate. As pessoas adoram bater as portas dos quartos de hotel. Como se não tivessem vizinhos. Como se não pertecessem à eles: inquebráveis.
A cama convidativa, o barulho do frigobar, os quadros levemente desalinhados. Tão aconchegante e tão frio. Ele foi pensado para ser objeto de desejo, mas não passa de uma zona neutra. Não toma partido, não ofende ninguém, e também não me diz nada.
A mesma cama, os mesmos móveis. O telefone ao lado da cama, a televisão que roda para todos os lados. A mesma cor de sorvete de creme nas paredes. E o branco, ahhh, o branco. Edredon, toalhas, travesseiros. Tudo branco como deve ser. Por que, heim?
Irritantemente impessoal.
Infelizmente nem tudo é impessoal. E a unica coisa que eu queria que fosse está cheia de homens suados a espera de uma louca de calças justas a procura de uma esteira para gastar as calorias do bolo de chocolate do meio da tarde.... Ainda se a chuva parasse!
Mais uma cidade, mais um hotel.
Que é só mais uma cidade. E nem consigo contar quantas.
E é só mais um hotel, que nem consigo contar quantos.
No prédio ao lado ainda tem gente trabalhando: da para ver uma mesa de reunião, três pessoas conversando e quatro computadores. Pessoas e seus computadores... Deve ter também uma porção de telefones, mas isso não dá para ver.
Lá no alto tem uma academia: muitos homens suados num espaço tão pequeno. Será que as mulheres que viajam não usam academia?
Lá embaixo o lobby está cheio. Dois recepcionistas dão risada de algum comentário sem sentido que o hóspede falou. Circulação de pessoas que chegam de uma jornada e que saem para outras.
Entram e saem apressados. Uma loira grandalhona lê uma revista de moda sentada num sofá. Ela tem 3 bolsas: uma deve ser a bolsa da carteira e dos objetos cotidianos, outra bolsa deve conter um laptop e um caderno ou algumas folhas. A terceira não sei para que existe, não é grande o suficiente para armazenar uma troca de roupa e nem pequena o suficiente que possa caber dentro das outras duas.
O bar tem grupos sorridentes e levemente alcoolizados. Alguns petiscam uma besteira qualquer.
Os elevadores dizem o de sempre: dia, hora, previsão do tempo, horários que você deve saber, serviços que você deve conhecer.
Não sei se é por ter trabalhado num parecido com este, mas sinto que conheço estes espaços e estas pessoas. Os semblantes são velhos conhecidos. O cheiro é característico. As vozes são comuns. Sotaques e linguas misturadas a música ao fundo. Uma sirene na rua traz a cor e o som através da fachada. As luzes de dentro são neutras aos olhos. Toda a rotina é um sistema seguro para meu ser. Uma engrenagem que roda sem esforço, que tem vida própria, que se alimenta de seres como eu.
Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo e ainda assim estaria aqui.
Olho e vejo um quarto de hotel. Qualquer um daqueles que já estive. A lazer, a trabalho ou por qualquer motivo.
Lá fora um corredor cheio de portas. Silêncio, e então uma porta bate. As pessoas adoram bater as portas dos quartos de hotel. Como se não tivessem vizinhos. Como se não pertecessem à eles: inquebráveis.
A cama convidativa, o barulho do frigobar, os quadros levemente desalinhados. Tão aconchegante e tão frio. Ele foi pensado para ser objeto de desejo, mas não passa de uma zona neutra. Não toma partido, não ofende ninguém, e também não me diz nada.
A mesma cama, os mesmos móveis. O telefone ao lado da cama, a televisão que roda para todos os lados. A mesma cor de sorvete de creme nas paredes. E o branco, ahhh, o branco. Edredon, toalhas, travesseiros. Tudo branco como deve ser. Por que, heim?
Irritantemente impessoal.
Infelizmente nem tudo é impessoal. E a unica coisa que eu queria que fosse está cheia de homens suados a espera de uma louca de calças justas a procura de uma esteira para gastar as calorias do bolo de chocolate do meio da tarde.... Ainda se a chuva parasse!
Mais uma cidade, mais um hotel.
Que é só mais uma cidade. E nem consigo contar quantas.
E é só mais um hotel, que nem consigo contar quantos.
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Idade
Nunca me preocupei
com isso, a idade nunca me assustou: nem o primeiro cabelo branco, nem a
flacidez da pele, nem os sinais ao redor dos olhos. Minha vaidade não é grande
o suficiente para me tirar do sério para cada ano acumulado pelo corpo. Claro que tem
coisas que irritam, tem um vasinho no meu rosto - que antes era escondido pelos
óculos, mas que agora está bem visível - que me incomoda aos montes. Qualquer
hora eu queimo, mas nada é urgente.
Olho no meu
rosto e vejo mais sinais provocados pelo riso e pela fala do que pela
preocupação e sofrimento. Vejo no meu corpo mais sinais de vida saudável do que
de desastres emocionais. Nada é
perfeito, ainda acho que faltam uns centímetros de perna, sobram uns
centímetros de quadril, falta também um pouco de cabelo e sobra outro pouco de
bochechas.
Mas nada disso me impediu de ser feliz e viver cada dia.
Sempre usei biquíni,
mesmo estando acima do peso e sendo branca como uma lagartixa. Sempre usei
calças largas e estampadas, mesmo tendo coxas grossas e pernas curtas. Sempre
usei adereços grandes – anéis, colares, echarpes, etc – mesmo não tendo tamanho
para isso. E não é pelo
fato de quebrar regra ou desafiar a moda, é simplesmente pelo fato de me sentir
bem. De ser autêntica, de mostrar quem sou e qual a razão de estar aqui.
Eu vivo no
presente, o passado e o futuro pouco me desgastam. Do passado só resta lembrar-me
das pessoas e dos lugares. Do futuro... Não sei lidar muito bem com o futuro. Pensar
nele não é meu lazer preferido. Não sou do tipo que planeja tudo, a não ser o extremamente
necessário! Aquela pergunta “onde você estará em 5 anos?” Ahhh, na boa: eu
quero estar viva e feliz! Isso significa morar numa praia da Austrália vendendo
sanduíche, morar em Londres fazendo um curso de inglês ou numa cidadezinha do interior do Brasil dando aula para crianças. Não sei. Só sei que
gosto de viver estas experiências inesperadas.
Não gosto de
pensar que estou presa a um trabalho ou a uma cidade ou qualquer outra coisa
que não me complete. Mesmo que para muitos tudo isso signifique que eu nunca
terei uma casa organizada (e padronizada) ou uma carreira de sucesso ou uma
comunidade para dividir as atividades... E dai? Para que serve tudo isso?
Curtindo o presente, como sempre... |
Na próxima
semana completo 36 anos. Nunca imaginei que os 36 fossem tão parecidos com os
16 ou os 26. Quando eu tinha 16, achava que as ‘tias’ de 36 eram seres de outro
planeta! hehe. Tem dia que acordo com 16 anos e tem dia que acordo com 56. Minha
idade em número nunca irá refletir a minha idade real: nem o que sinto por dentro e nem o que vivo por fora.
Ainda tenho aquela
euforia inexplicável da adolescência correndo em minhas veias, ainda tomo um
porre de vez em quando como fazia os 18 anos. E também tenho os meus momentos
de responsabilidade exacerbada assim como uma senhora aristocrática – a mesma
crise de responsabilidade que eu tinha aos 18 anos...
Ok, uma coisa
mudou de verdade: meus hormônios. Eles me dizem que a idade mudou e que o tempo
está passando. Mexem com minhas emoções. Controlam minha saúde.
Destemperada ou
centrada é assim que chego aqui. Pronta para que os 40 venham com a mesma
leveza e com a mesma sensação de missão cumprida. Feliz aniversário pra mim!
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Óculos
Pelo que lembro uso óculos desde os 13 anos. Isso significa que são mais de
20 anos dependendo deste acessório...
Tive todas as épocas de relacionamento com ele. Primeiro a fase do "que legal, eu uso óculos!". Era uma época que todos os meus amigos e colegas da escola queriam usar aparelho nos dentes, usar óculos ou quebrar o pé. É, a sequência de importância era mais ou menos essa ai.
Este primeiro óculos era realmente horrível, o pior de todos. Preto, redondo e muito grande para o meu rosto... Mas era final dos anos 80 e a moda era meio bizarra, com aquelas ombreiras enormes e as calças bag. Hoje em dia é chique. Vintage! Só que sofri muito bullying - que naquela época ninguém tinha a menor ideia do que isso significada. Todo mundo sofria um pouco por algum motivo: gordinhos, magrelas, muito altos, muito baixos, óculos, aparelho.... E um milhão de outras coisas.
Quando fui estudar numa escola mais distante resolvi abandonar os óculos. Ou melhor, eu tentei. Fiquei alguns anos fugindo deles e eu nem podia trocá-los, afinal era algo muito caro e não fazia sentido para alguém que mal usava! Fora que ele era muito mal cuidado. Imagina uma "criança" de 14/15 anos que já odeia os óculos ter que cuidar deles? Impossível.
Até um dia que eu resolvi que precisava mesmo deles - pelo menos para assistir as aulas - e resolvi chorar uns óculos novos para mamãe. Cara, aquele óculos era muuuito legal! Ele tinha uma armação azul e prata e um desenho exclusivo bem original. Também não agradou a maioria e eu me recusava usar aquela coisa além das paredes da sala de aula, do cinema ou sala de TV.
Perdia o ônibus, não reconhecia as pessoas na rua e a coisa só foi piorando. Quanto menos eu usava os óculos mais meu grau amentava! E lá fui eu atrás de alternativas.
Era meu primeiro namoro sério, com 17 anos e eu PRECISAVA me livrar daquela coisa. Então conheci as lentes de contato. E foi amor à primeira vista... E ódio também. Elas incomodavam, me derem alergia, custava caro, durava pouco e dava um trabalho do cão!
Dai em diante, principalmente por causa do carro, nunca mais consegui me separar dos óculos e das lentes. Variava o uso dependendo do meu humor ou do interesse.
Vai pra balada: lentes de contato. Vai para a faculdade: óculos.
O cuidado continuou o mesmo, pois eu dormia com eles. Sentava em cima. O cachorro comia. E assim foi, cada ano uma armação. Das mais variadas possíveis. Um ano era a da moda o outro era a mais barata e depois a tal da vintage e aquela daquele estilista famoso.... Era bem legal escolher a armação da vez.
Mas o meu sonho mesmo era nunca mais precisar de nada disso. E eu venho nos últimos 5 anos pesquisando, estudando, entendo e me educando para isso.
A vida no trecho não me deixou muitas possibilidades, mas enfim cheguei numa cidade grande e lá fui para mais um oftalmologista.
E então termina a minha saga dos óculos, do bullying, da alergia as lentes. Nunca mais vou dormir de óculos e nem acordar e ficar tateando ao lado para ver se encontro-o. Espero não precisar de lentes nunca mais, pois não poderei usá-las.
Hoje faz exatamente 38 dias que fiz a cirurgia e finalmente o mundo começa a aparecer. Mas este é outro post.
Óculos agora, só escuros!
Tive todas as épocas de relacionamento com ele. Primeiro a fase do "que legal, eu uso óculos!". Era uma época que todos os meus amigos e colegas da escola queriam usar aparelho nos dentes, usar óculos ou quebrar o pé. É, a sequência de importância era mais ou menos essa ai.
Este primeiro óculos era realmente horrível, o pior de todos. Preto, redondo e muito grande para o meu rosto... Mas era final dos anos 80 e a moda era meio bizarra, com aquelas ombreiras enormes e as calças bag. Hoje em dia é chique. Vintage! Só que sofri muito bullying - que naquela época ninguém tinha a menor ideia do que isso significada. Todo mundo sofria um pouco por algum motivo: gordinhos, magrelas, muito altos, muito baixos, óculos, aparelho.... E um milhão de outras coisas.
Quando fui estudar numa escola mais distante resolvi abandonar os óculos. Ou melhor, eu tentei. Fiquei alguns anos fugindo deles e eu nem podia trocá-los, afinal era algo muito caro e não fazia sentido para alguém que mal usava! Fora que ele era muito mal cuidado. Imagina uma "criança" de 14/15 anos que já odeia os óculos ter que cuidar deles? Impossível.
Até um dia que eu resolvi que precisava mesmo deles - pelo menos para assistir as aulas - e resolvi chorar uns óculos novos para mamãe. Cara, aquele óculos era muuuito legal! Ele tinha uma armação azul e prata e um desenho exclusivo bem original. Também não agradou a maioria e eu me recusava usar aquela coisa além das paredes da sala de aula, do cinema ou sala de TV.
Perdia o ônibus, não reconhecia as pessoas na rua e a coisa só foi piorando. Quanto menos eu usava os óculos mais meu grau amentava! E lá fui eu atrás de alternativas.
Era meu primeiro namoro sério, com 17 anos e eu PRECISAVA me livrar daquela coisa. Então conheci as lentes de contato. E foi amor à primeira vista... E ódio também. Elas incomodavam, me derem alergia, custava caro, durava pouco e dava um trabalho do cão!
Dai em diante, principalmente por causa do carro, nunca mais consegui me separar dos óculos e das lentes. Variava o uso dependendo do meu humor ou do interesse.
Vai pra balada: lentes de contato. Vai para a faculdade: óculos.
O cuidado continuou o mesmo, pois eu dormia com eles. Sentava em cima. O cachorro comia. E assim foi, cada ano uma armação. Das mais variadas possíveis. Um ano era a da moda o outro era a mais barata e depois a tal da vintage e aquela daquele estilista famoso.... Era bem legal escolher a armação da vez.
Mas o meu sonho mesmo era nunca mais precisar de nada disso. E eu venho nos últimos 5 anos pesquisando, estudando, entendo e me educando para isso.
A vida no trecho não me deixou muitas possibilidades, mas enfim cheguei numa cidade grande e lá fui para mais um oftalmologista.
E então termina a minha saga dos óculos, do bullying, da alergia as lentes. Nunca mais vou dormir de óculos e nem acordar e ficar tateando ao lado para ver se encontro-o. Espero não precisar de lentes nunca mais, pois não poderei usá-las.
Hoje faz exatamente 38 dias que fiz a cirurgia e finalmente o mundo começa a aparecer. Mas este é outro post.
Óculos agora, só escuros!
quinta-feira, 24 de maio de 2012
Cinza
Sabe aqueles dias?
Dias assim... Tudo meio cinza. Uma garoa
que vai e que volta. Não sabe o quer da vida. O tempo que não se decide, as
nuvens que não tomam uma posição.
Dias que começam estranhos, se arrastam
até o anoitecer e terminam sem razão. Logo serão esquecidos. Não fazem sentido.
É aquele dia que nada acontece - nem de
bom nem de ruim.
Sabe aqueles dias... Dias assim que
passam e não voltam.
Melhor assim! Tem uma porção de dias
assim. Esquecidos, apagados, rejeitados.
Dias indecisos. Decididos a não existir.
Ás vezes tem sol, não tem nuvem, a garoa
está bem longe, mas o dia é assim: cinza. Só assim.
Dias assim. É assim, sabe?
Claro que sabe, todo mundo tem um dia assim.
Azul por fora e cinza por dentro.
Sol lá fora e garoa aqui dentro.
Vazio fora e uma bagunça dentro.
Sabe aqueles dias que o tempo é frio, mas o dia é morno? Sabe
aquela coisa de nem quente nem frio? Marasmo. Preguiça. Monotonia. Tédio. Coisa
assim.
Ainda se tivesse sol...
O sol que tem o poder da cura. O calor
que penetra. Que dá cor aos muros, ruas e pessoas. Ai o cinza vai embora. Para
bem longe de preferência. É, o sol.
Sabe aqueles dias que dá saudade? Ainda
não sei do que ou de quem. Deve ser de tudo e de todos.... De coisas que já se
foram e daquelas que ainda estão por vir. É este sentimento de vazio e que
junta tudo! É até difícil de entender e de explicar.
Dias assim. Aqueles...
Cinza. Indeciso. Recolhido e encolhido.
Aqueles dias, sabe? Pôxa tem que saber!
É o dia que não tem hora para acabar. Ele
parece tão longo. E, no entanto, no dia seguinte já foi esquecido. Mistura de
noite mal dormida e fome. Cabeça que não para.E nem sei por que não para! Só fica
rodando, indo e voltando de lugares, pessoas, sentimentos. Pessoas,
sentimentos, lugares. Muda tudo e não muda nada....
Dias completos de complementos estranhos.
De situações sem pé nem cabeça. Você não sabe se casa ou compra tal da
bicicleta. Não sabe se coloca a calça
com bolso ou a sem bolso. Escolher a cor do cinto é ainda pior...
É, sinto muito por tudo isso. Estes dias
são assim mesmo. Sabe?
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