segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Hotel

Lá fora um rio corre entre a chuva. Luzes dos carros e das calçadas.

No prédio ao lado ainda tem gente trabalhando: da para ver uma mesa de reunião, três pessoas conversando e quatro computadores. Pessoas e seus computadores... Deve ter também uma porção de telefones, mas isso não dá para ver.

Lá no alto tem uma academia: muitos homens suados num espaço tão pequeno. Será que as mulheres que viajam não usam academia?

Lá embaixo o lobby está cheio. Dois recepcionistas dão risada de algum comentário sem sentido que o hóspede falou. Circulação de pessoas que chegam de uma jornada e que saem para outras.

Entram e saem apressados. Uma loira grandalhona lê uma revista de moda sentada num sofá. Ela tem 3 bolsas: uma deve ser a bolsa da carteira e dos objetos cotidianos, outra bolsa deve conter um laptop e um caderno ou algumas folhas. A terceira não sei para que existe, não é grande o suficiente para armazenar uma troca de roupa e nem pequena o suficiente que possa caber dentro das outras duas.

O bar tem grupos sorridentes e levemente alcoolizados. Alguns petiscam uma besteira qualquer.

Os elevadores dizem o de sempre: dia, hora, previsão do tempo, horários que você deve saber, serviços que você deve conhecer.

Não sei se é por ter trabalhado num parecido com este, mas sinto que conheço estes espaços e estas pessoas. Os semblantes são velhos conhecidos. O cheiro é característico. As vozes são comuns. Sotaques e linguas misturadas a música ao fundo. Uma sirene na rua traz a cor e o som através da fachada. As luzes de dentro são neutras aos olhos. Toda a rotina é um sistema seguro para meu ser. Uma engrenagem que roda sem esforço, que tem vida própria, que se alimenta de seres como eu. 

Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo e ainda assim estaria aqui.

Olho e vejo um quarto de hotel. Qualquer um daqueles que já estive. A lazer, a trabalho ou por qualquer motivo.

Lá fora um corredor cheio de portas. Silêncio, e então uma porta bate. As pessoas adoram bater as portas dos quartos de hotel. Como se não tivessem vizinhos. Como se não pertecessem à eles: inquebráveis.

A cama convidativa, o barulho do frigobar, os quadros levemente desalinhados. Tão aconchegante e tão frio. Ele foi pensado para ser objeto de desejo, mas não passa de uma zona neutra. Não toma partido, não ofende ninguém, e também não me diz nada.

A mesma cama, os mesmos móveis. O telefone ao lado da cama, a televisão que roda para todos os lados. A mesma cor de sorvete de creme nas paredes. E o branco, ahhh, o branco. Edredon, toalhas, travesseiros. Tudo branco como deve ser. Por que, heim?

Irritantemente impessoal.

Infelizmente nem tudo é impessoal. E a unica coisa que eu queria que fosse está cheia de homens suados a espera de uma louca de calças justas a procura de uma esteira para gastar as calorias do bolo de chocolate do meio da tarde....  Ainda se a chuva parasse!

Mais uma cidade, mais um hotel.

Que é só mais uma cidade. E nem consigo contar quantas.
E é só mais um hotel, que nem consigo contar quantos.

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