Pra mim - assim como eu já disse antes - é uma relação de amor e ódio. Viver São Paulo é uma delícia e uma preocupação. Pra quem vive fora desta cidade, voltar é como reencontrar um amante antigo: trás boas e más recordações.
Sim, eu tenho medo de andar pela cidade. Tenho medo das motos "voando" sobre meu carro, tenho medo dos ônibus que acreditam que tem mais direitos do que eu. Tenho medo das pessoas que se aproximam demais. Não confio em ninguém. Sinto uma tensão que atravessa as pessoas na rua.
Ou será que a tensão é minha? Parece que ninguém olha para os lados – ou nos olhos. Sou capaz de rodar pela cidade e não ver o caminho ao meu redor. Assim como a maioria das mais de 10 milhões de criaturas que por aqui vivem...
Durante o dia vejo rostos tristes e cansados, cada um com seus pensamentos, voando longe. Andam com pressa. E de mal-humor que eu sinto de longe e em todos os lugares: lanchonetes, shoppings de alto padrão, feira livre de rua, na padaria da esquina.
E tem alguns retratos que não mudam: o engravatado almoçando rápido e quieto numa praça do shopping, a senhora simpática da fila do supermercado que quer conversar sobre os preços que subiram, o jovem lendo um livro dentro do metrô, a mulher espetacular que circula pelas lojas no meio do dia. Quantas vezes já fiz tudo isso??
Solitários. Que tem o mundo a sua volta e ainda assim estão solitários.
Às vezes encontro uns felizes, com cara de férias, passeando de chinelos, sorrindo para as crianças, brincando com os cachorros. Não combinam com a cidade. Ou não combinam com a minha visão da cidade. Não sei se foi a cidade que mudou muito ou se fui eu que mudei demais. Vejo que os relaxados estão perdidos, até parecem que se esqueceram de onde estão. Tenho inveja de não me sentir mais como eles - à vontade com a rapidez e com a estupidez.
Durante a noite vejo o mar de luzes e de loucos. Por onde se olha se vê luz, de todos os tamanhos e cores. É um espetáculo emocionante. Lindo. E não tem fim. O horizonte vai muito além dos olhos. É um desperdício de energia, mas é uma necessidade – segurança. Tudo por aqui é movido pela energia, pela tecnologia. Elevadores, portões, telefones, internet.
E os barulhos: motos, máquinas, gente, música. Um caldeirão que nunca seca. Borbulha vinte e quatro horas. Bares, restaurantes, festas, baladas. Prazer que não se explica. Que vibra na pele. Que purifica a alma. A noite de São Paulo recarrega baterias - e não o contrário, como se imagina. Tem pra todos. É só procurar, e nem precisa procurar muito.
site desta foto: www.br.olhares.com |
Posso escrever o que quiser. Nada será exagerado, estranho ou ofensivo. Tudo ela suporta, aceita, concorda. De quando em vez dá uma chuva e ela tenta nos dizer alguma coisa. Mas logo volta ao normal e perde a palavra.
Parece mãe. Mãe de todos que vivem, que já viveram e que ainda vão viver aqui. Que adora os contrastes e os desafios. Que vive em paz consigo mesma. Que dorme e acorda sem pensar nas desventuras e devaneios dos seus filhos. Que sabe amar e ser amada. E que vive feliz e eterna – como devem ser todas as mães.
Cidade que merece o respeito por ser uma das três maiores do mundo. E que merece o respeito do mundo, simplesmente por ser São Paulo.
É isso aí Valéria. Tô contigo e não abro. Também nasci e cresci em São Paulo e me mudei para o interior de São Paulo. Me sinto como se minha vida andasse em câmera lenta, como se ela tivesse dado um stop, é muito diferente aonde estou atualmente, até sinto as pessoas diferentes.
ResponderExcluirAmo de coração São Paulo, embora ela pareça "um gigante assustador que nunca para de crescer". As pessoas aonde eu moro tem muito medo e aversão à São Paulo; mas acho que é porque elas não conhecem sua alma.
Como você mesma diz: tudo ela suporta, aceita e concorda. E sendo assim fica fácil uma relação de amor e às vezes de ódio com ela.
Beijos
Tamy
aha, me achou!!
ResponderExcluirVc tem tanta história pra contar, pq não cria um blog pra vc?!
um grande beijo