quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Partidas

Já começou: a temporada das partidas está aberta! Ainda tenho esperanças de que vou me acostumar com isso, mas cada vez que acontece, alguma coisa muda em mim.

Tem sempre uns três ou quatro casais que são mais próximos, mais receptivos, mais divertidos e mais companheiros, e ai, de um dia para o outro eles começam a se espalhar. Quando a gente começa ter intimidade, confiança e tranquilidade, quando a gente começa a entrar "nos eixos" é o momento de se despedir. Sei que não é para sempre, pois tenho fé que ainda vou reencontrar a maioria deles, mas a sensação de perda é inevitável. Sei também que cada buraco que se abre é uma oportunidade para novos caminhos - neste caso, para novas pessoas, mas também é como começar de novo. E todo começo é conturbado. A gente divide a casa, a comida, a risada, os problemas, as confusões e até alguns segredos mais obscuros. E de repente tudo muda! A flexibilidade para as mudanças depende de como encaramos o fato, mas no fundo sempre dói. Mexe com a nossa vidinha confortável.

No próximo mês já é a vez da primeira partida e até o inicio do ano mais outras duas devem acontecer e assim cada um vai tomando o seu rumo e reconstruindo sua vida. Uns voltam para a cidade natal outros partem para uma nova aventura. Não interessa, toda partida é uma quebra e que nos coloca em xeque-mate com nós mesmos. Os medos reaparecem, as inseguranças surgem. Mudar nunca é fácil, mesmo para quem está acostumado - e para quem gosta.

Hoje perguntei para a esposa do casal que está de mudança: e ai, preparada? E a resposta é sempre a mesma: Sim. Acreditar na mudança é o primeiro passo, o segundo é assumir para si mesmo e terceiro é contar pra todo mundo. Encarar tudo isso faz parte do processo e ter coragem para as novas descobertas é sinal de amadurecimento. A gente nunca sabe o que vai acontecer, mas sempre temos a certeza de que vai ser o melhor.

Eu sempre brinco com minha mãe: não reze para eu voltar, reze para que eu seja feliz! E é isso que eu repito para todo mundo, se está indo embora reze para ser feliz, afinal com o resto a gente se acostuma.

Ainda não é a minha vez, mas já começo a pensar que está próximo e que cada trecho tem data para começar e para terminar. E com a temporada de partidas começa também a temporada de despedidas e de muitas festas para comemorar, porque uma partida não pode ser completa se não tiver uma boa despedida...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Férias

Sim, sumi. Tirei férias.

Bem, se a pergunta surgir: como ela tira férias se não trabalha? Digo que "férias" é um período de descanso periódico de uma atividade constante, independente da atividade. Eu tirei férias do trecho!

Tirei férias da minha casa, do meu marido, dos amigos, da cachorra, do sol, do jardim, da internet e de tudo mais que me acompanha diariamente. Até da TV. Fui andar por caminhos diferentes, conhecer outras chuvas, outros cheiros e gostos. Reencontrei alguns prazeres, como o de se perder, o de ficar sozinha num lugar estranho e o de descobrir novos cenários. Reencontrei - depois de dez anos - uma querida amiga, que continua querida e amiga.

Os azuis.
Rodei por cidades enormes, grandes, médias, pequenas e minúsculas. Matei a saudade do metrô, do bonde, do ônibus, do trem, do barco, do avião. Matei a saudade da minha mãe. Identifiquei a grande quantidade de tonalidades da cor verde de outras florestas, os tons de azul - que não existem por aqui - do rio, do mar e do céu. Corri entre o trânsito dos carros e das motocas, fui revistada como se fosse uma criminosa, fiquei numa fila por mais de uma hora para entrar num elevador e caminhei por mais de uma hora sem encontrar ninguém.

Tomei chuva, passei frio, dei risada, fiquei com medo, perdi a paciência. E passei calor também! Cometi muitos pecados e pedi perdão por todos eles em todas as igrejas que entrei (acho que foram umas 40 igrejas e nem deu tudo isso de pecado!). Tomei vinho até cair, comi até cair, andei até cair, ri até cair. Caí da cama. Caí na besteira de acreditar que tudo podia ser perfeito. Nunca é, mas pode beirar a perfeição!
Os verdes.

Quem disse pra gente que férias é para descansar? Não. Férias é para tudo isso, porque para descansar eu fico em casa, onde a cama é a minha, o chuveiro é o meu, a comida é a minha. Nas férias nada disso descansa. A comida é uma bagunça, os quartos são estranhos e os banheiros, bem, acho melhor não comentar. Só tenho certeza de uma coisa: depois das férias tudo muda. A gente volta com saudade de tudo e de todos. E tudo aquilo que foi vivido nas férias será guardado, recordado e comentado até o fim de nossa vida, porque a experiência das férias ninguém pode arrancar da gente.

E já começo a planejar as férias do ano que vem, até porque férias a gente merece uma vez por ano...