quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dona Romilda


Esta linda e simpática senhora é minha avó e amanhã é seu aniversário. São 90 primaveras comemoradas e acompanhadas de muitas histórias. Pense numa mulher forte, esta é a sua imagem. E tem paixão pela vida. 

Lembro bem dos almoços de domingo na casa dela, família italiana de mesa farta, gente barulhenta e de muito amor pela dona da casa. E ela se preocupa com todos e faz a gente se sentir em casa. Tem o hábito de ligar para os nomes da agenda telefônica (que é enorme) nos seus respectivos aniversários e muitas vezes só para bater um papo - essa gosta do telefone mesmo! Ela bem que gostaria que a família vivesse embaixo de sua grande asa, mas infelizmente a vida não é exatamente como gostaríamos.

Vi poucos momentos de fragilidade dela, o primeiro foi a perda de meu pai há pouco mais de 20 anos. Meu pai não teve mãe por muito tempo, sendo assim adotou a sogra como a tal e ele fazia de tudo por ela. Quando ele se foi desse mundo ela se abateu, teve um AVC e sofreu como quem perde um filho, mas se recuperou e continuou sua jornada. Teve jogo de cintura e cabeça aberta para todas as novidades da vida contemporânea: cabelo comprido nos meninos, tatuagens, a lista interminável de namorados das netas, netos que não casaram e só se juntaram, netos que tiveram filho sem casar, separações e essas coisas que acontecem por aí.

Extremamente religiosa, segue todas as tradições e criou os seis filhos nessa doutrina. Manteve as datas sagradas e festas num calendário apertado, sempre com a casa cheia de gente. Por lá tem sempre alguém hospedado, tem sempre alguém que aparece para um almoço no meio da semana ou um jantar no final de semana e o domingo... Bem o domingo é um episódio a parte! Ele é animadíssimo. Eu passei minha infância inteira com o domingo reservado pela minha avó. Lá os adultos jogavam baralho até tarde da noite, tomavam cerveja e comiam, e comiam mesmo. Os pequenos se divertiam na sala, com mil almofadas, e cabana com lençol atrás do sofá, e fazendo montinho de primos e comendo, claro. Passei muitas férias por lá, sem fazer nada, só para dormir num lugar diferente. Meu avô ensinava a gente jogar baralho e minha avó fazia mil guloseimas. Mesmo depois de "velha” (vamos chamar de "crescida") eu tive minhas aventuras na casa de minha avó e dormi muitas vezes no chão da sala enorme com pelo menos meia dúzia de primos de vários graus. A quantidade de primos de vários graus é considerável, mas somos praticamente como irmãos - assim fomos criados.

O Natal também tem sua glória e teve suas fases: a da criançada com Papai Noel, coral e teatrinho, a da adolescência da molecada com o amigo secreto - que foi meio morna e a atual, com os primos formados e quase todos casados - e o amigo secreto virou amigo da onça (regado com bastante vinho), que é mais engraçado! Ai a família aumentou e a bagunça aumentou e vieram os bisnetos e assim a família segue sob a supervisão daquela Senhora ali. O que não muda é o longo cardápio que começa ser devorado logo cedo (sem aquela coisa de hora para a ceia) e só acaba quando o último convidado vai embora.

Quando saí de São Paulo uma das coisas que mais me dava saudade era daquela mesa cheia de gente do domingo, quantas vezes eu liguei para lá bem no meio do almoço só para poder ouvir a conversa, os talheres, o cachorro e a movimentação. E ninguém reclama. Quem tiver por perto do telefone que atenda e aí ele vai passando de mão em mão até chegar nela - ela fala rapidinho porque tem mais uma porção por perto para ela cuidar. E este é melhor horário para ligar lá, pois tem sempre um amontoado de personalidades. 

Ela também viu meu avô partir e ainda lembro-me dele me dizendo que eu era a neta que mais se parecia fisicamente com minha avó quando mais nova: o mesmo rosto, as mesmas pernas grossas. Ela sofreu também com a despedida dele, mas até parece que rejuvenesceu depois disso e manteve a casa e a família na rédea curta. O que mais me impressiona é o respeito que todos têm por ela, como se ela realmente fosse uma rainha na colméia, uma anciã sábia que guarda histórias e segredos, mas que só revela o que é divertido e alegre. Aquilo que é triste e o que não presta ela joga fora e passa por cima com um trator para ser triturado e esquecido.

A festa no final de semana vai ser grande e já está sendo organizada faz um tempo, com a participação ativa dela. Meu coração dói por não poder participar de mais um dia de casa cheia, mas o trecho não me permite compartilhar de todas as aventuras desta família. Peço a Deus para que a mantenha abençoada assim e que aquela casa continue cheia, pois nada nessa vida pode ser maior e melhor presente de aniversário do que ter todos à sua volta - ainda mais sendo ela o motivo da festa. Que ela tenha forças para aguentar a emoção e mais muitos anos de vida para poder manter a felicidade de todos que tem esta Dona como sua querida. Sou fã dessa mulher!

2 comentários:

  1. Não tem como não ser fã dessa vó!! Forte, inteligente, amorosa e a pessoa de maior fé em Deus que eu conheço. Vide o dia em que foi assaltada em sua casa e só faltou servir um cafezinho pro ladrão "sem vergonha" que entrou pelo quintal...e a força de viver após momentos de fragilidade como o dessa semana, que ficou no hospital devido a um AIT ( ataque isquêmico transitório) sem sequelas. E dizendo que estava ótima, sem sentir mais nada, no auge dos seus 90 anos muito bem vividos!!Essa é a dona Romilda, que me orgulha de ser sua neta e me ensina a viver e a ser feliz todos os dias!!!

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