Escrever
alivia os pensamentos, liberta a alma, distrai o coração. Revela sentimentos.
Por vezes começo a escrever por hábito e quando percebo não consigo parar.
Fluidez.
Palavras vomitadas que brotam não sei de onde. Incontrolável.
Os dedos até tentam ser rápidos, mas não acompanham a cabeça. Escrevo, apago, reescrevo. Me perco.
Encontro-me
em Fernanda Young: “Cheia de dúvidas e
decepções. Sentindo vergonha deste português mal-ajambrado; destes capítulos
frouxos, repetitivos, lotados de vícios de expressão e incorreções de todas as
ordens”. Serve-me como roupa feita por um alfaiate.
E continua “Forço-me a escreve, para não ter que jogar
tudo isso no lixo”. E muitas
vezes vai para o lixo: cadernos, diários, bloquinhos, rascunhos, folhas, folhas, folhas
e mais folhas. Que no final acabam no lixo.
Muitas vezes
começa com associação livre, que nada mais é do que terapia. E então cama,
banheiro, banho, quarto, cama, telefone, ansiedade, medo, conversa, ansiedade,
risos, convite, dúvida, olhos fechados, risos, mais conversa, encontro, confirmação,
ansiedade, armário, sala, garagem, carro, rádio, rua, luzes, bar, ansiedade. Explica como uma amiga
me tira da cama para bater papo num boteco...
Sequência lógica e sem sentido (como?). E que ninguém precisa entender. Um desabafo.
Sequência lógica e sem sentido (como?). E que ninguém precisa entender. Um desabafo.
Pode virar história. Ou trabalho. Ou vai para o lixo.
Ficará guardado
para sempre, independente de onde estiver. E fora de mim.
Leio e escrevo. Talvez eu não fale muito. Ou
então não consiga me expressar com palavras ditas, apenas escritas. Sou capaz
de explicar qualquer coisa, se eu puder escrever. Tenho mais coragem, mais
habilidade. E não me preocupo com correções, acertos e coerências. Só escrevo.
Como
morfina para a dor.
Palavras que
manam por todos os lados. Escorrem como lágrimas – ou como sangue. Desaguam em
lugares desconhecidos e descobrem leitores desavisados.
Cumprem sua
promessa. Partem dessa para melhor. Morrem.
Anos depois são capazes de me fazer reviver. Voltar até momentos incríveis, dias de fúria ou tristeza
profunda. E que por isso são tão necessárias.
Escrever é assim. Ponto final.
Escrever é assim. Ponto final.