quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Avião


É a primeira vez que escrevo dentro de um avião. Nunca usei o caderno, a agenda ou qualquer outro 'dispositivo' de escrita. Ok, talvez umas palavras cruzadas nas viagens mais longas... Mas escrever mesmo, pensar, escrever, apagar, etc, é a primeira vez.

Normalmente as viagens são curtas, Rio-SP ou SP-Curitiba, até Porto Alegre-SP não justificam o computador ou a caneta e o papel. Naquelas internacionais me policio para dormir, afinal são longas, cansativas e prometem dias de muito esforço nos novos destinos. Às vezes me pego achando que a gente gosta mesmo de sofrer, afinal as férias já começam cheias de atrapalhações, atrasos, horas de espera e um interminável voo internacional.

Desta vez a vigem é um tanto mais longa, apesar de nacional: João Pessoa-Brasília e depois na sequência Brasilia-SP. Tinha uma opção João Pessoa-Guarulhos, mas a opção de Guarulhos é só se não tiver outra opção.

Nunca tive medo de entrar num avião, mas de vez em quando penso que pode dar alguma coisa errada. Não é paranóico, nem nada temível, apenas uma pontinha de insegurança rodeada por nuvens, ar condicionado, comissários excessivamente simpáticos e um leve balanço enjoativo. Os ouvidos tampados também causam um ligeiro desconforto.

O comandante está falando um monte de coisas neste momento, do tipo: previsão de pouso às 9h35, céu claro, temperatura de 20 °C, velocidade de 850 km/h e perdi o resto. Pode parecer agradável, mas porque que eles ficam repetindo estas informações a cada 15 minutos? Já é a terceira vez que ele me diz a temperatura de Brasília.

Eu bem que precisava dormir... Despertar as 5 da manhã definitivamente não é o meu esporte predileto, mesmo que isto inclua voltar para casa depois de 3 semanas trabalhando em cidades diferentes pelo Brasil. E também tem a questão do sol brilhando no meu rosto, pois meu amigo da janela fica olhando para fora como se nunca tivesse voado. Tem também este ar insuportavelmente gelado – não entendo esta necessidade humana de gostar de frio! 

Acho que rola também um tantinho de ansiedade de chegar logo em casa. Faz quase um mês que não vejo meu marido. Nem minha casa. Saudade da minha rotina, das minhas plantas, da minha cachorra, da academia e – o mais importante – da minha cama! Com a idade começo a sentir os efeitos de uma noite mal dormida: os olhos profundos, levemente arroxeados entregam minha falta de adaptação ao colchão de molas afundado.

Chegou a hora do lanche. Nos voos mais curtos é até ofensivo o tamanho do sanduiche, menor que um finger sanduiche – sim, aqueles do tamanho de um dedo. Melhor assumir logo que não vale e distribuir os cardápios para as vendas abusivas: uma lata de refrigerante e um pacote de batata (do tamanho da palma da minha mão) costuma custar R$10. Hoje o café da manhã até que foi bonzinho: torrada Bauducco, wafer ‘sabor’ chocolate (sabor? Socorro!), geleia de amora e POLENGUINHO! Fiquei muito feliz com este Polenguinho. Suco de pêssego acompanha o cardápio – mas pode ser coca-cola, se você for viciado. Neste momento tem farelo de wafer por todo o teclado... Fiquei com ele e com o polenguinho. Como eu não sabia o que me esperava, comprei 2 pãezinhos de queijo no aeroporto. E como temos outra perna até SP, devo ter outra oportunidade de experimentar as 'delícias' da TAM.

É engraçado como voar pode parecer tão monótono. Se não fosse pelo barulho a sensação de estar parada no mesmo lugar pode confundir o cérebro. Nem aquelas tremidinhas comuns dos dias limpos passaram pelas asas desta aeronave. Tenho uma curiosidade imensa em saber da onde vem tanto barulho: será das turbinas, do ar condicionado, do ar sendo cortado? Será que na primeira classe das aeronaves asiáticas também tem este barulho todo? Tanta tecnologia com espaços exclusivos e menus mirabolantes e este maldito barulho não silencia? Não sei, nunca tive oportunidade de estampar o meu corpinho numa poltrona completamente reclinável da primeira classe.

Agora vou tentar ler aquela revista amassada e enrugada por algum passageiro descuidado. Ou fuçar no fundo da bolsa para achar o livro da vez – em 3 semanas de táxis, aeroportos e hotéis já se foram 4 livros. E esperar pelo pouso suave num aeroporto lotado no centro-oeste brasileiro. Boa viagem pra vc tb!

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Hotel

Lá fora um rio corre entre a chuva. Luzes dos carros e das calçadas.

No prédio ao lado ainda tem gente trabalhando: da para ver uma mesa de reunião, três pessoas conversando e quatro computadores. Pessoas e seus computadores... Deve ter também uma porção de telefones, mas isso não dá para ver.

Lá no alto tem uma academia: muitos homens suados num espaço tão pequeno. Será que as mulheres que viajam não usam academia?

Lá embaixo o lobby está cheio. Dois recepcionistas dão risada de algum comentário sem sentido que o hóspede falou. Circulação de pessoas que chegam de uma jornada e que saem para outras.

Entram e saem apressados. Uma loira grandalhona lê uma revista de moda sentada num sofá. Ela tem 3 bolsas: uma deve ser a bolsa da carteira e dos objetos cotidianos, outra bolsa deve conter um laptop e um caderno ou algumas folhas. A terceira não sei para que existe, não é grande o suficiente para armazenar uma troca de roupa e nem pequena o suficiente que possa caber dentro das outras duas.

O bar tem grupos sorridentes e levemente alcoolizados. Alguns petiscam uma besteira qualquer.

Os elevadores dizem o de sempre: dia, hora, previsão do tempo, horários que você deve saber, serviços que você deve conhecer.

Não sei se é por ter trabalhado num parecido com este, mas sinto que conheço estes espaços e estas pessoas. Os semblantes são velhos conhecidos. O cheiro é característico. As vozes são comuns. Sotaques e linguas misturadas a música ao fundo. Uma sirene na rua traz a cor e o som através da fachada. As luzes de dentro são neutras aos olhos. Toda a rotina é um sistema seguro para meu ser. Uma engrenagem que roda sem esforço, que tem vida própria, que se alimenta de seres como eu. 

Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo e ainda assim estaria aqui.

Olho e vejo um quarto de hotel. Qualquer um daqueles que já estive. A lazer, a trabalho ou por qualquer motivo.

Lá fora um corredor cheio de portas. Silêncio, e então uma porta bate. As pessoas adoram bater as portas dos quartos de hotel. Como se não tivessem vizinhos. Como se não pertecessem à eles: inquebráveis.

A cama convidativa, o barulho do frigobar, os quadros levemente desalinhados. Tão aconchegante e tão frio. Ele foi pensado para ser objeto de desejo, mas não passa de uma zona neutra. Não toma partido, não ofende ninguém, e também não me diz nada.

A mesma cama, os mesmos móveis. O telefone ao lado da cama, a televisão que roda para todos os lados. A mesma cor de sorvete de creme nas paredes. E o branco, ahhh, o branco. Edredon, toalhas, travesseiros. Tudo branco como deve ser. Por que, heim?

Irritantemente impessoal.

Infelizmente nem tudo é impessoal. E a unica coisa que eu queria que fosse está cheia de homens suados a espera de uma louca de calças justas a procura de uma esteira para gastar as calorias do bolo de chocolate do meio da tarde....  Ainda se a chuva parasse!

Mais uma cidade, mais um hotel.

Que é só mais uma cidade. E nem consigo contar quantas.
E é só mais um hotel, que nem consigo contar quantos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Idade


Nunca me preocupei com isso, a idade nunca me assustou: nem o primeiro cabelo branco, nem a flacidez da pele, nem os sinais ao redor dos olhos. Minha vaidade não é grande o suficiente para me tirar do sério para cada ano acumulado pelo corpo. Claro que tem coisas que irritam, tem um vasinho no meu rosto - que antes era escondido pelos óculos, mas que agora está bem visível - que me incomoda aos montes. Qualquer hora eu queimo, mas nada é urgente.

Olho no meu rosto e vejo mais sinais provocados pelo riso e pela fala do que pela preocupação e sofrimento. Vejo no meu corpo mais sinais de vida saudável do que de desastres emocionais. Nada é perfeito, ainda acho que faltam uns centímetros de perna, sobram uns centímetros de quadril, falta também um pouco de cabelo e sobra outro pouco de bochechas. 

Mas nada disso me impediu de ser feliz e viver cada dia.

Sempre usei biquíni, mesmo estando acima do peso e sendo branca como uma lagartixa. Sempre usei calças largas e estampadas, mesmo tendo coxas grossas e pernas curtas. Sempre usei adereços grandes – anéis, colares, echarpes, etc – mesmo não tendo tamanho para isso. E não é pelo fato de quebrar regra ou desafiar a moda, é simplesmente pelo fato de me sentir bem. De ser autêntica, de mostrar quem sou e qual a razão de estar aqui.

Eu vivo no presente, o passado e o futuro pouco me desgastam. Do passado só resta lembrar-me das pessoas e dos lugares. Do futuro... Não sei lidar muito bem com o futuro. Pensar nele não é meu lazer preferido. Não sou do tipo que planeja tudo, a não ser o extremamente necessário! Aquela pergunta “onde você estará em 5 anos?” Ahhh, na boa: eu quero estar viva e feliz! Isso significa morar numa praia da Austrália vendendo sanduíche, morar em Londres fazendo um curso de inglês ou numa cidadezinha do interior do Brasil dando aula para crianças. Não sei. Só sei que gosto de viver estas experiências inesperadas. 

Não gosto de pensar que estou presa a um trabalho ou a uma cidade ou qualquer outra coisa que não me complete. Mesmo que para muitos tudo isso signifique que eu nunca terei uma casa organizada (e padronizada) ou uma carreira de sucesso ou uma comunidade para dividir as atividades... E dai? Para que serve tudo isso?

Curtindo o presente, como sempre...
Na próxima semana completo 36 anos. Nunca imaginei que os 36 fossem tão parecidos com os 16 ou os 26. Quando eu tinha 16, achava que as ‘tias’ de 36 eram seres de outro planeta! hehe. Tem dia que acordo com 16 anos e tem dia que acordo com 56. Minha idade em número nunca irá refletir a minha idade real: nem o que sinto por dentro e nem o que vivo por fora.

Ainda tenho aquela euforia inexplicável da adolescência correndo em minhas veias, ainda tomo um porre de vez em quando como fazia os 18 anos. E também tenho os meus momentos de responsabilidade exacerbada assim como uma senhora aristocrática – a mesma crise de responsabilidade que eu tinha aos 18 anos...

Ok, uma coisa mudou de verdade: meus hormônios. Eles me dizem que a idade mudou e que o tempo está passando. Mexem com minhas emoções. Controlam minha saúde. 

Destemperada ou centrada é assim que chego aqui. Pronta para que os 40 venham com a mesma leveza e com a mesma sensação de missão cumprida. Feliz aniversário pra mim!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Óculos

Pelo que lembro uso óculos desde os 13 anos. Isso significa que são mais de 20 anos dependendo deste acessório...

Tive todas as épocas de relacionamento com ele. Primeiro a fase do "que legal, eu uso óculos!". Era uma época que todos os meus amigos e colegas da escola queriam usar aparelho nos dentes, usar óculos ou quebrar o pé. É, a sequência de importância era mais ou menos essa ai.

Este primeiro óculos era realmente horrível, o pior de todos. Preto, redondo e muito grande para o meu rosto... Mas era final dos anos 80 e a moda era meio bizarra, com aquelas ombreiras enormes e as calças bag. Hoje em dia é chique. Vintage! Só que sofri muito bullying - que naquela época ninguém tinha a menor ideia do que isso significada. Todo mundo sofria um pouco por algum motivo: gordinhos, magrelas, muito altos, muito baixos, óculos, aparelho.... E um milhão de outras coisas.

Quando fui estudar numa escola mais distante resolvi abandonar os óculos. Ou melhor, eu tentei. Fiquei alguns anos fugindo deles e eu nem podia trocá-los, afinal era algo muito caro e não fazia sentido para alguém que mal usava! Fora que ele era muito mal cuidado. Imagina uma "criança" de 14/15 anos que já odeia os óculos ter que cuidar deles? Impossível.

Até um dia que eu resolvi que precisava mesmo deles - pelo menos para assistir as aulas - e resolvi chorar uns óculos novos para mamãe. Cara, aquele óculos era muuuito legal! Ele tinha uma armação azul e prata e um desenho exclusivo bem original. Também não agradou a maioria e eu me recusava usar aquela coisa além das paredes da sala de aula, do cinema ou sala de TV.

Perdia o ônibus, não reconhecia as pessoas na rua e a coisa só foi piorando. Quanto menos eu usava os óculos mais meu grau amentava! E lá fui eu atrás de alternativas.

Era meu primeiro namoro sério, com 17 anos e eu PRECISAVA me livrar daquela coisa. Então conheci as lentes de contato. E foi amor à primeira vista... E ódio também. Elas incomodavam, me derem alergia, custava caro, durava pouco e dava um trabalho do cão!

Dai em diante, principalmente por causa do carro, nunca mais consegui me separar dos óculos e das lentes. Variava o uso dependendo do meu humor ou do interesse.

Vai pra balada: lentes de contato. Vai para a faculdade: óculos.

O cuidado continuou o mesmo, pois eu dormia com eles. Sentava em cima. O cachorro comia. E assim foi, cada ano uma armação. Das mais variadas possíveis. Um ano era a da moda o outro era a mais barata e depois a tal da vintage e aquela daquele estilista famoso.... Era bem legal escolher a armação da vez.

Mas o meu sonho mesmo era nunca mais precisar de nada disso. E eu venho nos últimos 5 anos pesquisando, estudando, entendo e me educando para isso.

A vida no trecho não me deixou muitas possibilidades, mas enfim cheguei numa cidade grande e lá fui para mais um oftalmologista.

E então termina a minha saga dos óculos, do bullying, da alergia as lentes. Nunca  mais vou dormir de óculos e nem acordar e ficar tateando ao lado para ver se encontro-o. Espero não precisar de lentes nunca mais, pois não poderei usá-las.

Hoje faz exatamente 38 dias que fiz a cirurgia e finalmente o mundo começa a aparecer. Mas este é outro post.

Óculos agora, só escuros!


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Cinza

Sabe aqueles dias?
Dias assim... Tudo meio cinza. Uma garoa que vai e que volta. Não sabe o quer da vida. O tempo que não se decide, as nuvens que não tomam uma posição.
Dias que começam estranhos, se arrastam até o anoitecer e terminam sem razão. Logo serão esquecidos. Não fazem sentido.
É aquele dia que nada acontece - nem de bom nem de ruim.

Sabe aqueles dias... Dias assim que passam e não voltam.
Melhor assim! Tem uma porção de dias assim. Esquecidos, apagados, rejeitados.
Dias indecisos. Decididos a não existir.

Ás vezes tem sol, não tem nuvem, a garoa está bem longe, mas o dia é assim: cinza. Só assim.
Dias assim. É assim, sabe? Claro que sabe, todo mundo tem um dia assim.
Azul por fora e cinza por dentro.
Sol lá fora e garoa aqui dentro.
Vazio fora e uma bagunça dentro.


Sabe aqueles dias que o tempo é frio, mas o dia é morno? Sabe aquela coisa de nem quente nem frio? Marasmo. Preguiça. Monotonia. Tédio. Coisa assim.
Ainda se tivesse sol...
O sol que tem o poder da cura. O calor que penetra. Que dá cor aos muros, ruas e pessoas. Ai o cinza vai embora. Para bem longe de preferência. É, o sol.

Sabe aqueles dias que dá saudade? Ainda não sei do que ou de quem. Deve ser de tudo e de todos.... De coisas que já se foram e daquelas que ainda estão por vir. É este sentimento de vazio e que junta tudo! É até difícil de entender e de explicar.

Dias assim. Aqueles...
Cinza. Indeciso. Recolhido e encolhido.
Aqueles dias, sabe? Pôxa tem que saber!

É o dia que não tem hora para acabar. Ele parece tão longo. E, no entanto, no dia seguinte já foi esquecido. Mistura de noite mal dormida e fome. Cabeça que não para.E nem sei por que não para! Só fica rodando, indo e voltando de lugares, pessoas, sentimentos. Pessoas, sentimentos, lugares. Muda tudo e não muda nada....

Dias completos de complementos estranhos. De situações sem pé nem cabeça. Você não sabe se casa ou compra tal da bicicleta.  Não sabe se coloca a calça com bolso ou a sem bolso. Escolher a cor do cinto é ainda pior...

É, sinto muito por tudo isso. Estes dias são assim mesmo. Sabe?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ócio

Por brincadeira do destino hoje não escapei de escrever... Logo pela manhã fui escolher um site na minha área de favoritos e cliquei no endereço daqui do blog. Agora noite eu li um texto postado por um 'priminho' amado e me senti na obrigação - ou no direito - de me revelar.

É incrível como tenho tantos assuntos e muitas vezes não consigo escrever sobre nada. Tenho escrito tanto por ai que esqueço daqui.

Enfim, meu primo falava de artistas, de ócio, de paixão e também de coisa simples da vida. E tudo isso coube em algumas linhas! Na verdade ele falava de surf, mas isso para mim foi apenas um detalhe... O que me interessou nas suas palavras foi " Pensando bem, podemos chegar a uma definição para essa felicidade: arranjar tempo para o ócio".

Intrigada, assustada e inconformada. Será isso mesmo? 

Ócio nada mais é que: O não fazer nada. Tempo de descanso, repouso. Preguiça, vadiagem. É o tempo que temos para sermos apenas nós mesmo. Seja o que quiser, aonde estiver.

O ócio acontece no seu trabalho, na sua casa, no seu dia a dia. Não fazer nada pode acontecer até em cima de uma bicicleta.... você é que se propõe a fazer e a determinar esta vadiagem.

Ócio é sinônimo de felicidade sim! Nos momentos de ócio é que fazemos as coisas mais deliciosas da vida. Pode ser um contrassenso: fazer no ócio? Pode. O ócio tudo permite.

Nos momentos de ócio eu posso sentar na minha varanda e olha para o céu. Também posso falar com minha mãe por 30 minutos sobre assunto nenhum. Almoço de domingo na casa da minha avó definitivamente é um momento de ócio. Ficar na areia da praia, ler um revista de fofocas, passa a mão na cabeça da cachorra, abrir uma lata de cerveja, tirar os sapatos, comer pipoca, andar de bicicleta.... 

Quanto ócio! Cada pequeno prazer da minha vida está contido num momento de ócio.

E meu primo vai além e também cabe na minha reflexão:  "Nessa perspectiva podemos fazer uma reflexão. A bicicleta e o ciclismo. Uma é o oposto do outro. Um vulto vestido de amarelo fluorescente descendo a 70 km/hora é ciclismo; duas crianças passeando no calçadão de Ipanema, é bicicleta. (...) Só de bicicleta podemos nos apaixonar.

Olha essa frase: "Só de bicicleta podemos nos apaixonar". É isso. A paixão acontece nos momentos de ócio. É quando podemos parar e olhar para os lados. É quando temos a cabeça vazia das coisas complicadas. É quando somos nós mesmos.

Tem gente que não sabe se apaixonar... muita gente! É porque não tem momentos de ócio. É porque não consegue se despir das loucuras da vida. Por que os artistas são tão apaixonados? É o ócio criativo!

Para se ter uma grande ideia é necessário vadiar! Para tocar os sentimentos de tantos indivíduos é preciso ser especialista do ócio.  E também é necessário ter paixão. Me diga se não é fácil ter um amor de férias de verão? Paixão instantânea, arrebatadora. Quem nunca teve uma é porque não sabe o que é ócio. Não sabe 'ficar de bobeira'. 

Quanto ócio! Cada pequeno prazer da minha vida está contido num momento de ócio.

E esta é a minha lição de hoje: aprendi que para ser feliz é necessário paixão. E muito ócio!

Post inspirador: http://issoesurf.blogspot.com.br/


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sonhos

Muitas vezes me pego conversando com o computador e questionando o quanto que devo ou posso me expor. Muitas vezes escrevo histórias reais ou imaginadas que não vão além do “salvar” do laptop. Muitas vezes guardo tudo comigo. Afinal, escrever por quê?

Os meus sonhos são mais ou menos assim também. Sonho muito e lembro muito deles. Dificilmente consigo falar sobre eles.

As imagens logo se perdem, mas a sensação daquilo que aconteceu perdura ao longo do dia.

Sonho constantemente com lugares e pessoas do meu passado. Se alguém me cutucar no FB eu sonho com esta pessoa, se vejo fotos de uma praia que já fui, lá está ela no próximo sonho.

Costumo curtir muito cada um deles. O que acontece é que no sonho eu acabo realizando desejos que não posso ou não devo na vida real.

Sinto-me completamente livre para sonhar. Posso voar, correr, mudar, ser e acontecer. E acordo chorando, rindo, sofrendo ou amando. Lembro-me dos cheiros, das sensações, dos cenários e principalmente das pessoas.

Ficam tão marcadas na minha memória que chegam a substituir a imagem real: quando perdi meu pai há mais de 20 anos o cabelo dele era inteiro preto ainda – apesar dos 49 anos. Não faz muito anos eu sonhei com ele envelhecido, com cabelos grisalhos, os óculos mais modernos, o mesmo estilo de camisa xadrez e calças jeans, a barba por fazer. Aquela imagem era tão verdadeira que quando penso nele é assim que aparece.

Realidade. E os sonhos se tornam realidade.

Esta noite sonhei com uma festa de final de ano em Bertioga. E a casa de um tio – que falei com ele por telefone ontem, claro! Mas não era qualquer festa, como qualquer outra que já teve por lá. Era aquele ano, aquela noite, aquelas pessoas. Porém o banheiro da casa era maior, os quartos divididos de outra maneira e as pessoas... Bem, as pessoas tinham vida própria!

E a festa terminou completamente diferente daquela que já vivi. Com a mesma diversão, com a mesma paixão, mas com outro final.

Parece que vejo novamente um filme. E que cada vez que assisto acerto do meu jeito. Com os meus desejos, com as minhas fantasias.

Fico impressionada com esta capacidade do ser humano. Talvez seja uma forma de poder extravasar ou ainda, de poder agir. Longe da rotina diária que não nos permite ir além.

Terapia. Que o cérebro traz a tona tudo que não sai em palavras. Tudo que está enterrado e não temos coragem de assumir.

Ainda bem que escapa. E se não, era capaz de explodir!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Tempo

O ano começou outro dia e parece que já faz tanto tempo.

A semana de férias passou rápido, cheia de compromissos, de causos, de horas de estrada. Família, amigos. E a família dos amigos. Tudo vira uma coisa só.

O tempo é curto para tantas novidades. Sede de descanso, fome de liberdade.

Sem a rotina os dias voam mais rápido. Rápido demais. Nem dá tempo de fazer tudo.

Caminhar, dar risada, dormir, discutir sobre o almoço, preparar o churrasco, jogar baralho, passear com a Maria, tomar chuva, discutir sobre tomar chuva ou não, tomar banho de mar, ficar na dúvida se vale a pena enfrentar a areia lotada para tomar banho de mar, ficar acordada até de madrugada para ver as estrelas, namorar, ir ao mercado, ao posto, à padaria, ao bairro vizinho para ver os amigos, e mais um milhão de coisas e lugares.

Vale a pena. Gosto deste clima de festa, de descontração. Cansa, mas é benéfico. Sai da rotina, vira minha vida do avesso. Trás uma enxurrada de emoções, de lembranças, de momentos vividos, de pessoas amadas. Fico nostálgica, revendo na memória uma porção de temporadas passadas. Leva-me para lugares onde fui feliz.

Não que eu não seja feliz ou viva apenas de passado – muito pelo contrário, mas todo final de ano me sinto assim. É ótimo, me faz parecer um pouco mais humana, mais normal. E cada ano me surpreendo mais comigo mesma.

Em algum momento lá atrás eu não gostava desta época de final de ano pelos mesmos motivos que hoje eu gosto. Sentia-me fragilizada com tudo isso.

Amadureci e amoleci.

Meu coração bate mais forte nos dias de hoje. Não tenho mais vergonha de chorar pelas razões mais ridículas – ou por qualquer razão. Não me sinto mais culpada por poder viver em fartura e harmonia, enquanto tanta gente não pode – ou não quer.

Vivo mais a minha vida da minha maneira, sem ficar preocupada com o resto do mundo. Parece egoísmo, mas é apenas autoconhecimento.

Reflexões de uma menina. Menina sim. É assim que sou.

Dou risada das aventuras sem sentido, tomo banho de chuva para ver os fogos na areia da praia, choro de ver os fogos, choro por ganhar um presente que já foi meu um dia e que volta a ser meu 30 anos depois, fico cheia de tanto comer, fico triste por perder uma partida de tranca, fico feliz de poder abraçar amigos de longa data, fico bêbada de felicidade por estar perto da minha família, fico agradecida por ver o sol e poder molhar o corpo no mar, fico admirada de ver as estrelas e discutir sobre as Três Marias ou sobre o Cruzeiro do Sul. Tantos pequenos prazeres... Sem fim!

E então a vida volta para o seu lugar.

A rotina, o trabalho, a academia e tudo mais. Tudo no seu tempo: hora para acorda, para dormir, para almoçar, para trabalhar. Horas e horas.

Tempo que passa rápido. Que acaba logo. Me faz perceber que ainda tem tanto tempo pela frente.

Respiro fundo, porque 2012 está apenas começando. Que assim seja!