sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Bingo

Tem coisas nessa vida que definitivamente eu não nasci pra fazer. Eu até faço, mas sem vontade nenhuma. Viver numa cidade pequena tem seus momentos de puro deleite, porém para sobreviver às redes sociais - destas mesmas cidades - tem que ter muito molejo nas cadeiras. É um tal de chá da tarde daqui, de festa pra arrecadar dinheiro dali e não poderia faltar o bingo. O bingo sozinho já não é lá das dez coisas mais interessantes que existem para se fazer, ainda cercado de um monte de mulheres de poucos afazeres fica menos atrativo ainda. E quando as mulheres falam tão alto que não se consegue nem ouvir o número sorteado do bingo é pra acabar comigo.

Tá, eu sei, eu tenho alguns problemas de relacionamento – é uma ótima explicação! A sensação que tenho é que sou a única que não relaxo e me divirto nestas reuniões. O papo é sem graça, a comida é horrível e os prêmios piores ainda. Eu juro que vou de coração aberto e faço realmente para ajudar – afinal era para arrecadar dinheiro para as criancinhas... Na maioria das vezes é melhor dar o dinheiro e ficar em casa, ou na rua, ou na praia, ou na piscina, ou passeando no centro da cidade ou sei lá aonde. E aí vc tem que arranjar uma ótima desculpa, porque numa cidade pequena nada se faz sem que pelo menos uma meia dúzia de conhecidos fiquem sabendo. 

Uma das coisas que me preocupa é que a maioria das mulheres chega num momento da vida que só fala de novela, marido, casa e filho. É a empregada que dá trabalho, o filho que não dorme o marido que não dá atenção... Eu vivo em outro planeta. No meu, não existem filhos, minha casa é uma delícia, minha empregada só me ajuda e meu marido é uma maravilha. Claro que nada é assim tão perfeito, mas será que a gente pode mudar o assunto? Eu quero falar sobre o Rio de Janeiro, sobre música, cinema, sei lá. Vamos falar mal de algum político ou de alguém conhecido? Contar histórias engraçadas, que tal? Quero diversão!

Lá em Três Lagoas o povo da cidade dizia que eu era “refinada”, “descolada”, “moderna” e que às vezes não me convidavam por vergonha, mas eu cheguei à conclusão que quem mora numa cidade grande é mais bicho do mato do que o povo daqui. Nós fomos criados num mundo muito maluco, em São Paulo todo mundo faz o que quer sem ser muito analisado e criticado. E não tinha essa coisa de um viver na casa do outro e se conhecer na rua. Fomos programados para nos proteger e para não nos preocuparmos com a vida dos demais. E a gente só se junta quando realmente se gosta ou então quando é pra fazer festa.

Fora a guerra fria que existe por causa da sua aparência - até parece a Inglaterra (rs). Tanto lá no Mato Grosso do Sul como aqui na Bahia o calor é de arrasar e mesmo assim a mulherada vive de calça jeans, maquiagem e salto fino. Eu não entro numa calça jeans, a minha maquiagem derrete e é impossível andar de salto fino na grama, na terra ou na areia. A desculpa delas é que sou “atualizada”, “globalizada” - no fundo mesmo eu não aguento! Acho que elas é que tem vergonha de mim por aparecer de rasteirinha e vestidão ou ainda pior, de bermuda boyfriend e blusinha de alça...

E eu que sou a estranha. Sei que tenho um estilo pouco convencional e nunca me senti mal por isso. Não sou escrava de nada: nem da moda, nem da sociedade. Sou única, assim como todos são, porque tenho que usar a mesma fantasia que todo mundo? Eu fico com a minha, obrigada. (Para quem não me conhece, até parece que sou uma louca revolucionária. Não, sou apenas eu mesma.)

Não vivo reclamando de tudo por ai, só que tem dia que o desabafo é necessário. Afinal tem coisas que realmente me irritam. Chá quente é pra quem tá doente – como diz meu marido. Ou então para as tardes e noites fria, debaixo do cobertor, assistindo TV. Não para o clima da Bahia – com o sol na cabeça e a areia nos pés. Ainda se o chá fosse gelado... E mais, o que gosto mesmo é de tomar cerveja num boteco. Jogar truco. Falar besteira. Dar risada. E não deixo de ser mulher por isso. Posso?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Caminhando

Não sou um exemplo de esportista, nenhuma apaixonada, mas já fiz de tudo um pouco. Jogava futebol no colégio e corria. Frequentei aulas de dança (jazz, balé, axé, etc), fiz muitos anos de academia e hoje tenho o pilates - que é o que realmente tenho prazer em fazer.

Mais a caminhada, que sempre “andou” paralela a tudo isso. Acredito que caminhar é mais que um exercício físico. Você cria seu próprio universo durante o caminho - Winston Churchill. A caminhada ajuda a processar as idéias, aliviar o stress, relaxar o corpo e se conhecer. Caminhar sozinha é um exercício de autoconhecimento, a conversar entre você e você mesma é quase uma obrigação. Claro que estou falando de caminhada ao ar livre, caminhar na esteira com a TV ligada ou na academia com todo aquele barulho não fazem o menor sentido para mim.

A caminhada em dupla é diferente, mas é terapêutica na mesma medida. É quase impossível caminhar sem conversar com a pessoa ao lado. Nada contra o silêncio, eu até gosto, mas se é pra ficar quieta eu vou sozinha. E falar enquanto anda é uma beleza, além de dar a impressão de que a caminhada acaba logo, os pulmões agradecem o esforço - e as calorias perdidas aumentam. E chega! Mais que um parceiro já é demais pra mim, atrapalha tudo.

Antes de casar eu caminhava muito com minha mãe. Logo depois que casei fiquei alguns anos sem caminhar - não dava tempo! Sempre a mesma desculpa. Um dia voltei a caminhar, sozinha, e aos poucos comecei a correr. E o prazer voltou. E de preferência à noite. As luzes, as estrelas e a lua dão um charme bem especial às horas de caminhada e de conversa.

No trecho meu marido resolveu se juntar e a caminhada começou a fazer parte de nossa rotina. Primeiro porque quando a gente muda de cidade a gente engorda! Não tem jeito, acho que é o corpo se adaptando ou  a ansiedade do novo lugar. E segundo, a caminhada nas cidades pequenas é um ritual divertidíssimo. Você encontra um monte de gente conhecida e acaba conhecendo outro monte de gente. Até porque a caminhada é um vício e o corpo e a mente sentem falta. E daí que quem faz a caminhada diária tem os seus hábitos: sempre no mesmo sentido, na mesma hora, etc. E nada mais engraçado do que observar e comentar sobre as pessoas ao seu redor e as manias de cada um.

Lá no Rio Grande do Sul, mesmo com o frio, a caminhada era necessária. Acho que por isso mesmo é que era tão necessária. Era um motivo para movimentar o corpo e esquentar a alma. A gente caminhava de roupa grossa e gorro. E por muitas vezes andávamos por quarteirões sem encontrar ninguém. Era só vendo as chaminés das casas com suas fumacinhas...

Aqui na praia a caminhada também é sazonal. Para os outros. Desde que chegamos aqui temos mantido a nossa caminhada e enquanto foi verão sempre teve um monte de gente na rua. O tempo virou, o vento sul chegou e por muitos meses éramos apenas nós dois em nossa caminhada. Até ontem. Parece que como uma febre todo mundo resolveu sair de casa: casais caminhando, mães com suas crianças em carrinhos ou bicicletas, turmas de adolescentes dando risada, cachorros e seus donos. E, de repente, como se um sinal fosse enviado, todos os moradores deste condomínio resolveram sair às ruas, para caminhar!

Que delícia! É o tempo quente que encoraja as pessoas e que dá energia a todos. E nos dizendo que é mais um ano que acaba e mais um ciclo que deve iniciar em breve. E sigo em frente, caminhando. Independente do tempo, da terra sob meus pés e do céu sobre minha cabeça.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dona Romilda


Esta linda e simpática senhora é minha avó e amanhã é seu aniversário. São 90 primaveras comemoradas e acompanhadas de muitas histórias. Pense numa mulher forte, esta é a sua imagem. E tem paixão pela vida. 

Lembro bem dos almoços de domingo na casa dela, família italiana de mesa farta, gente barulhenta e de muito amor pela dona da casa. E ela se preocupa com todos e faz a gente se sentir em casa. Tem o hábito de ligar para os nomes da agenda telefônica (que é enorme) nos seus respectivos aniversários e muitas vezes só para bater um papo - essa gosta do telefone mesmo! Ela bem que gostaria que a família vivesse embaixo de sua grande asa, mas infelizmente a vida não é exatamente como gostaríamos.

Vi poucos momentos de fragilidade dela, o primeiro foi a perda de meu pai há pouco mais de 20 anos. Meu pai não teve mãe por muito tempo, sendo assim adotou a sogra como a tal e ele fazia de tudo por ela. Quando ele se foi desse mundo ela se abateu, teve um AVC e sofreu como quem perde um filho, mas se recuperou e continuou sua jornada. Teve jogo de cintura e cabeça aberta para todas as novidades da vida contemporânea: cabelo comprido nos meninos, tatuagens, a lista interminável de namorados das netas, netos que não casaram e só se juntaram, netos que tiveram filho sem casar, separações e essas coisas que acontecem por aí.

Extremamente religiosa, segue todas as tradições e criou os seis filhos nessa doutrina. Manteve as datas sagradas e festas num calendário apertado, sempre com a casa cheia de gente. Por lá tem sempre alguém hospedado, tem sempre alguém que aparece para um almoço no meio da semana ou um jantar no final de semana e o domingo... Bem o domingo é um episódio a parte! Ele é animadíssimo. Eu passei minha infância inteira com o domingo reservado pela minha avó. Lá os adultos jogavam baralho até tarde da noite, tomavam cerveja e comiam, e comiam mesmo. Os pequenos se divertiam na sala, com mil almofadas, e cabana com lençol atrás do sofá, e fazendo montinho de primos e comendo, claro. Passei muitas férias por lá, sem fazer nada, só para dormir num lugar diferente. Meu avô ensinava a gente jogar baralho e minha avó fazia mil guloseimas. Mesmo depois de "velha” (vamos chamar de "crescida") eu tive minhas aventuras na casa de minha avó e dormi muitas vezes no chão da sala enorme com pelo menos meia dúzia de primos de vários graus. A quantidade de primos de vários graus é considerável, mas somos praticamente como irmãos - assim fomos criados.

O Natal também tem sua glória e teve suas fases: a da criançada com Papai Noel, coral e teatrinho, a da adolescência da molecada com o amigo secreto - que foi meio morna e a atual, com os primos formados e quase todos casados - e o amigo secreto virou amigo da onça (regado com bastante vinho), que é mais engraçado! Ai a família aumentou e a bagunça aumentou e vieram os bisnetos e assim a família segue sob a supervisão daquela Senhora ali. O que não muda é o longo cardápio que começa ser devorado logo cedo (sem aquela coisa de hora para a ceia) e só acaba quando o último convidado vai embora.

Quando saí de São Paulo uma das coisas que mais me dava saudade era daquela mesa cheia de gente do domingo, quantas vezes eu liguei para lá bem no meio do almoço só para poder ouvir a conversa, os talheres, o cachorro e a movimentação. E ninguém reclama. Quem tiver por perto do telefone que atenda e aí ele vai passando de mão em mão até chegar nela - ela fala rapidinho porque tem mais uma porção por perto para ela cuidar. E este é melhor horário para ligar lá, pois tem sempre um amontoado de personalidades. 

Ela também viu meu avô partir e ainda lembro-me dele me dizendo que eu era a neta que mais se parecia fisicamente com minha avó quando mais nova: o mesmo rosto, as mesmas pernas grossas. Ela sofreu também com a despedida dele, mas até parece que rejuvenesceu depois disso e manteve a casa e a família na rédea curta. O que mais me impressiona é o respeito que todos têm por ela, como se ela realmente fosse uma rainha na colméia, uma anciã sábia que guarda histórias e segredos, mas que só revela o que é divertido e alegre. Aquilo que é triste e o que não presta ela joga fora e passa por cima com um trator para ser triturado e esquecido.

A festa no final de semana vai ser grande e já está sendo organizada faz um tempo, com a participação ativa dela. Meu coração dói por não poder participar de mais um dia de casa cheia, mas o trecho não me permite compartilhar de todas as aventuras desta família. Peço a Deus para que a mantenha abençoada assim e que aquela casa continue cheia, pois nada nessa vida pode ser maior e melhor presente de aniversário do que ter todos à sua volta - ainda mais sendo ela o motivo da festa. Que ela tenha forças para aguentar a emoção e mais muitos anos de vida para poder manter a felicidade de todos que tem esta Dona como sua querida. Sou fã dessa mulher!

sábado, 13 de novembro de 2010

Cerveja

Desde muito pequena lembro do meu pai bebendo cerveja. Nunca foi nada preocupante, mas sei que ele era apaixonado pela bebida. Minha mãe nunca foi muito de beber, mas o pai dela - meu avô - sempre bebia as suas também. Era aquela coisa de final de semana e de todas as festas. Com o tempo descobri que eu também era uma apaixonada pela cerveja. E aos poucos fui degustando os tipos existentes e tentando apreciar suas variações. Nem todas agradam meu paladar, mas posso afirmar que hoje sou uma boa conhecedora de cerveja.

Tem muita gente por ai que acha que só os vinhos podem ser degustados e apreciados, mas todas as bebidas tem as suas diferenças e cada uma delas tem a sua história. Eu sou da cerveja. Quero deixar claro que não é um vício, mas é algo muito prazeroso.

A cerveja é a bebida da moçada da minha época de faculdade e de balada. Nesse tempo os destilados eram muito caros ou muito ruins. Essa coisa de energético não existia. A gente tomava cerveja mesmo. Era num bar, numa pista de dança, na praia, em casa. E ainda é.

Aos poucos fui me interessando pelas marcas diferentes que apareciam nos cardápios e nas gôndolas. Sempre gostei de experimentar o que aparecia de novo. Quanto eu tinha uns 18 anos os bares mais badalados de SP eram as cervejarias com suas canecas enormes e tinha a Continental com uma taça que era praticamente um aquário! E aí veio a Baden Baden de Campos do Jordão - que era o bar mais agitado da cidade. E quem não se lembra da DaDo Bier?

E lá perto da casa da minha mãe tem o Frangó, que começou vendendo frango grelhado e que depois se especializou em cerveja. Lá eu tomei cerveja do mundo inteiro. Enquanto comia uma porção de coxinha sempre tinha uma cerveja diferente ao lado.

Por muitos anos em SP tomamos cerveja em lata - na maioria dos lugares por segurança, já que a garrafa quebrava e dava briga e etc, mas também pelo custo do casco e pelo trabalho de carregar e acabava comprando em lata mesmo no mercado. E também tinha a coisa do chopp que cada um pedia o seu e controlava o consumo.

No trecho a cerveja voltou a ser de garrafa. E teve uma coisa que chamou  muita atenção quando chegamos em Três Lagos/MS: em qualquer boteco que a gente sentava a cerveja sempre era bem gelada - em SP nem sempre isso acontecia.

Andando pelo Brasil tive a aportunidade de conhecer os paladares diferentes de uma mesma marca de cerveja. Dizem que é a água. Mas a mesma marca pode ser estranha em SP e saborosa em Curitiba. Fora as marcas populares que a gente nem conhece, mas que o povo toma por causa do baixo custo. O custo-benefício não vale! Mas cada um na sua...

Andando fora do Brasil percebi que a cerveja também é amada e apreciada. As chopperias são deliciosas: animadas, barulhentas. E que também se acha cerveja ou chopp em qualquer boteco de qualquer cidade e cada um com a sua cultura: cerveja mais ou menos gelada, com mais ou menos colarinho, com copo assim ou assado que é pra poder manter o frescor ou o aroma. Ainda bem, assim posso manter o meu hábito.

Encontrei por esse mundo grandes bebedores e apreciadores de cerveja, quem realmente gosta da tal da loira (que pode ser morena ou ruiva, depende da cerveja) é porque já experimentou de todas - pelo menos todas ao alcance dos olhos e das mãos. O cheiro, o gosto na boca e o sabor que fica depois de acabar. Tem quem faça como o vinho e diz que tem cheiro de "frutas vermelhas" e sabor "carvalho" - eu tô fora disso! Sinto cheiro, gosto, mas é de cerveja! Mais adocicada, mais amarga, mais forte, mais leve... mas de madeira?! Eu nem sei qual é o gosto da madeira...

Comecei este texto porque eu estava arquivando umas fotos e achei essa ai. A foto foi tirada lá em Bagé/RS em 2009. Fomos passar um dia no Uruguai e em cada lojinha diferente que paramos compramos um tipo de cerveja, quando chegamos em casa e gente só tinha comprado cerveja! E pelo menos umas 2 garrafas de cada modelo.



Por sorte - ou por afinidade mesmo - acabei casando com outro apaixonado por cerveja e que também faz questão de experimentar qualquer novidade. E assim vamos bebendo cerveja, em quer cidade deste país e também dos outros países.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Livros





Livros. Como posso resumir? Um hábito. Um vício. Uma necessidade. Seja qual for a razão só posso afirmar que sem eles eu não vivo.

Minha mãe tem culpa nisso - claro, assim como tudo no mundo a mãe tem sempre culpa! Vou explicar: quando eu tinha uns 12/13 anos minha mãe me trancou no meu quarto e disse: "você só sai daí quando terminar este livro". Isso era o fim do mundo. Eu só pensava em ficar na rua, jogar bola, correr, andar de bicicleta e essas coisas que os meninos faziam. Sim, os meninos. Eles eram muito mais interessantes que as meninas: as bonecas, as panelinhas e brincar de casinha não tinham a menor graça. E lá fui eu e meu livro para o quarto...

O livro era A Revolução dos Bicho de George Orwell. Não lembro muito da história, mas tem a ver com uma fazenda que tem uns porcos que resolvem fazer uma revolução contra os donos, enfim uma fábula. Fiquei muito, muito brava com a imposição de minha mãe, mas lí o livro e voltei pra rua. Mas ainda não foi assim que me apaixonei pela literatura. 

Muitos anos mais tarde, já na faculdade de Publicidade tive uma quantidade ENORME de livros que deveriam ser lidos, entendidos, comentados. Era uma literatura bem específica, mas o hábito da leitura apareceu e aí comecei a me interessar por outras áreas. Nessa época eu era toda cheia de ser intelectual, namorava um artista plástico e vivia em torno de museus, bibliotecas e até trabalhei no Centro Cultural de São Paulo (sim, aquele que tem na Vergueiro, com milhões de exposições e shows e etc). Continuava na minha empreitada intelectual, mas caí numa linha muito pesada e fui ler Caetano Veloso - Verdade Tropical, tentei ler umas 3 vezes em 3 épocas da minha vida, mas não consigo passar da metade. No início achei que largar um livro sem acabar era um fracasso e insistia, mas isso foi me afastando da leitura.

Nessa mesma época descobri Edgar Ellan Poe e Stephen King. Apaixonada por filmes de terror resolvi mudar a direção da coisa para ver se funcionava. O primeiro do Sr. King foi Os Olhos do Dragãoé um conto de fadas misturado com o suspense digno do autor. E aí eu variava, um livro de aventuras, outro mais cabeça e segui lendo. Lá em casa sempre teve todo tipo de livro, minha mãe - como boa professora - sempre teve uma coleção louvável.

Saí da faculdade, do trabalho da Vergueiro e caí no mundo dos negócios. Fui trabalhar que nem gente grande. E aí tudo isso adormeceu. Trabalhando 14 horas por dia eu mal tinha tempo de dormir, então a leitura foi ficando escassa. Mas ainda assim sempre tinha um livro na minha cabeceira da cama, demorava meses pra terminar. E assim foi Carandiru (Dráuzio Varella), O Código Da Vinci (Dan Brown) e mais quase a coleção do Stephen King. Na minha lua de mel eu estava lendo O Cemitério (Pet Sematary) dele! Super Romântico!

Lí muito do Harry Poter (J.K.Rowling) - até virar filme, porque depois não teve mais graça! E mais um monte de coisas em ingês Midsummer Night's Dream (Sonho de uma noite de verão, em português de Willian Shekespeare), Dracula (Bram Stoker), - quando o meu inglês ainda era fluente. Os vampiros, ahh os vampiros... Pra quem vem apreciando vampiros há anos Stephenie Meyer com sua Saga Crepúsculo foi água com açúcar, mas ainda sim valeu - teve um deles que lí em apenas um dia: eu não podia sair da cama pois meu joelho estava imobilizado por razão de um acidente. E André Vianco (acho que lí todos os de vampiro dele), um brasileiro que coloca os vampiros em lugares que conheço bem, como a cidade de São Paulo. 

 Com o tempo descobri Clarice Lispector, Jorge Amado (amo!) e outro autores antigos que eu não tive maturidade para gostar quando era mais nova. E acabei lendo todos os mais vendidos dos últimos anos, alguns eu não terminei, outros eu lí, mas não lembro nada da história. Lembro de um ótimo, bem jornalístico: Abusado de Caco Barcellos. Um que nunca vou esquecer é A Viagem de Théo (Catherine Clément), que é a história de um menino que vai conhecendo as principais religiões do mundo - é um livro longo e lindo, mesmo para quem não gosta de religião. Outra dica para quem gosta de suspense e intrigas é a trilogia do Stieg Larsson (Os Homens que Não Amavam as Mulheres, A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar) - vai virar filme também. Vale pela história completa, tem hora que cansa, tem pedaço que é pesado demais, mas o livro vai te amarrando dum jeito que vc precisa saber o fim de tudo aquilo, mesmo já sabendo que vai dar tudo certo no final. E tem mais um número infinito de livros apaixonantes, nem vai dar para falar de todos...


Hoje eu termino um daqueles livros que não vou lembrar da história, acho que nem vou lembrar que lí, mas amanhã começo mais um autor clássico que estava guardado no ármário de minha mãe: Hermann Hesse em O Jogo das Contas de Vidro. É o último romance escrito pelo autor, publicado em 1943. Conforme a capa: Romance futurista que descreve uma comunidade mítica, em que intelectuais dedicados à música, à astronomia e à matemática se deleitam na prática de uma atividade lúdica complexa e requintada que define os valores da sociedade.

E assim eu fico. Boa leitura à todos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pescaria



Clara Nunes já dizia: "O galo cantou/Às quatro da manhã/Céu azulou na linha do mar"... e é assim que começa a pescaria. Dia amanhecendo, maré baixa.

Carrega o carro com vara, isca, isopor com água gelada e lanchinho, cadeira de praia e uma mochila com coisinhas básicas: toalha de banho, chapéu, protetor solar (extremamente necessário!), tábua e faca para limpar o peixe e cortar a isca, pequeno kit de pesca com anzol, linha, chumbinho e mais mil pecinhas que não sei o nome. E eu levei um livro, caso a coisa ficasse muito entediante. E essa foi a minha primeira vez.

Assim como a jardinagem está no sangue das mulheres da minha família, a pesca corre nas veias dos homens. Meu pai era um pescador assumido, onde tivesse uma pocinha de água lá tava ele com vara, isca e chapéu. Ás vezes ele pegava a barraca e o kit de pesca e ia para alguma beira de rio com meus tios e primos e voltava uma semana depois. Cheirando peixe, com a barba por fazer e feliz. Muitas vezes voltava sem o peixe...

Eu nunca entendi direito tudo isso: ficar sentado, em silêncio, debaixo de sol ou de chuva e ainda "matar' o pobre do peixe?! Não era o tipo de experiência que eu queria pra mim... Fora o fato de que mulher e pescaria não combinam!  Pelo menos é o que dizem os pescadores. Mas como tudo na vida muda, minha vida me leveou para lugares em que a pesca além de esporte para alguns era sobrevivência para outros.

Meu marido, como a maioria dos paulistas criados no asfalto, nunca tinha pensado nisso, mas por influência dos companheiros de cerveja acabou caindo na beira do rio e aprendeu a pescar. E claro, nunca mais largou! Aprendi que é assim, ou vc ama ou odeia, não tem um limite muito fácil de perceber quando isso acontece. O clima da coisa vai te envolvendo e vc vai fazendo e se entregando e aí já era.

Quando vc está pescando parece que a vida para. É vc, a água e o tempo. É uma atividade de muita atenção, vc tem que ficar o tempo todo esperto caso o peixe resolva te dar a graça de se enroscar no seu anzol. E não é fácil! Esse povo que diz que pegou não sei quantos mil quilos ou quantidades de peixe não é verdade! Ou melhor pode ser, mas aí dependde do tempo que vc tem pra ficar pescando. Ninguem pega toneladas de peixe em apenas uma manhã - impossível! E outra: aqueles pesque-pague não vale! Vc chega lá e tem a vara pronta e o peixe pulando pra fora... Isso nada tem a ver com o processo de pescaria real.

Pescar exige técnica, treino, paciência. Muita experiência. E chego a pensar que o prazer maior nem é pegar o peixe, mas é todo o ritual de ficar sozinho com seus pensamentos, sentado na beira de um rio - que tem um visual sensacional, com o barulhinho da água, o sol penetrando nos ossos, o vento acariciando o seu rosto... é quase um ato erótico! Só não dá prazer pra quem não consegue relaxar. E como ponto alto do ato nada mais emocionante do que tirar o anzol da água e ter o seu peixe fisgado. É a sensação de missão cumprida. Se o peixe for grande o suficiente para o almoço ai é perfeito, é como ganhar na loteira.

E então é hora de voltar pra casa: limpar o peixe na beira do rio ou do mar (no meu caso o encontro do mar com o rio), colocar no isopor, recolher a bagunça e festejar. Um brinde com cerveja gelada finaliza o ritual, afinal a gente merece! Ah, e o livro que levei foi só pra passear...