quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Escrever

Não sei explicar o que acontece. É uma necessidade.

Escrever alivia os pensamentos, liberta a alma, distrai o coração. Revela sentimentos. Por vezes começo a escrever por hábito e quando percebo não consigo parar.

Letras que formam a palavra e se transformam em frases, que concluem em parágrafo. Ensaio completo.

Fluidez. Palavras vomitadas que brotam não sei de onde. Incontrolável.

Os dedos até tentam ser rápidos, mas não acompanham a cabeça. Escrevo, apago, reescrevo. Me perco.

Encontro-me em Fernanda Young: “Cheia de dúvidas e decepções. Sentindo vergonha deste português mal-ajambrado; destes capítulos frouxos, repetitivos, lotados de vícios de expressão e incorreções de todas as ordens”. Serve-me como roupa feita por um alfaiate. 

E continua “Forço-me a escreve, para não ter que jogar tudo isso no lixo”. E muitas vezes vai para o lixo: cadernos, diários, bloquinhos, rascunhos, folhas, folhas, folhas e mais folhas. Que no final acabam no lixo.

Muitas vezes começa com associação livre, que nada mais é do que terapia. E então cama, banheiro, banho, quarto, cama, telefone, ansiedade, medo, conversa, ansiedade, risos, convite, dúvida, olhos fechados, risos, mais conversa, encontro, confirmação, ansiedade, armário, sala, garagem, carro, rádio, rua, luzes, bar, ansiedade. Explica como uma amiga me tira da cama para bater papo num boteco...

Sequência lógica e sem sentido (como?). E que ninguém precisa entender. Um desabafo.

Pode virar história. Ou trabalho. Ou vai para o lixo. 

Ficará guardado para sempre, independente de onde estiver. E fora de mim.

Leio e escrevo. Talvez eu não fale muito. Ou então não consiga me expressar com palavras ditas, apenas escritas. Sou capaz de explicar qualquer coisa, se eu puder escrever. Tenho mais coragem, mais habilidade. E não me preocupo com correções, acertos e coerências. Só escrevo. 

Como morfina para a dor. 

Palavras que manam por todos os lados. Escorrem como lágrimas – ou como sangue. Desaguam em lugares desconhecidos e descobrem leitores desavisados.

Cumprem sua promessa. Partem dessa para melhor. Morrem.

Anos depois são capazes de me fazer reviver. Voltar até momentos incríveis, dias de fúria ou tristeza profunda. E que por isso são tão necessárias.

Escrever é assim. Ponto final.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Nariz

Eu e meu nariz sempre tivemos uma vida agitada. Brigas infinitas. Noites sem dormir.

Tem uma música da Xuxa (af!) que diz assim: "Quem toma conta/E manda em mim/É o meu nariz".
Por causa dele tenho náusea, dor de cabeça, coceira, espirros, espasmos, olhos lacrimejantes e outras coisas mais. Socorro!

Não consigo me lembrar de quando começou, acho que desde sempre... Cheiros, odores, fragrâncias, perfumes, aromas - um mais irritante que o outro. Sensibilidade exagerada.

Os cheiros me trazem lembranças, me fazem odiar alguma coisa ou amar alguém. Os aromas de comida da casa de minha avó. Os perfumes dos namorados. As fragrâncias das flores no sítio. A brisa que vem do mar. Os odores desprezíveis de São Paulo.

Definitivamente o olfato é o meu sentido mais desenvolvido! Irritante. E meu nariz é o culpado.

Quantas horas em médicos e terapias de todas as categorias: homeopatia, alopatia, acupuntura, cromoterapia, reiki, xamãs, benzedeiras... Chás, poções mágicas, bolinhas de açúcar, antibióticos, antialérgicos, sprays de todos os sabores e cores.

E mais uma infinidade de coisas. Incontáveis. Fora o número exorbitante de pacotes de lenços de papel.

Uns dizem que são crises da alma, outros dizem que é genético. E mais uns que dizem que sou eu a culpada de tudo! Eu? Juro que não fiz nada para merecer!

A nova agora é a cirurgia. Enfim resolvi apelar. Fiz. Não sei ainda se bem ou mal. Foi tranquila. Na verdade eu estava morrendo de medo, afinal nunca passei por nada parecido. Só sei que foi rápido e indolor. Recuperação acelerada e perfeita

Agora parece que tenho um buraco no nariz! E não faça um trocadilho malvado.

Ouvi dizer que tudo vai melhorar e que a minha eterna encrenca com o meu nariz vai diminuir. Pensamento positivo: vai dar certo!

Sei lá. O que sei é que mais uma aventura foi pra lista - aquela de coisas que a gente não pode deixar de fazer antes de morrer. 

Experiências deste mundo e desta vida. E que venha a próxima.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

B-I-C-I-C-L-E-T-A



... sou sua amiga bicicleta!” Já cantava Toquinho. É assim que me sinto quando estou com a magrela.

Ela lembra a infância com meu pai: eu e minha bicicletinha azul e as rodinhas. Depois que as rodinhas foram embora teve uma época que eu adorava emprestar as bicicletas dos meninos lá da minha rua. Era época da BMX e das bikes freestyle. Eu gostava dos malabarismos e de andar em pé atrás de alguém ou de andar sozinha sem segurar o guidão.

Sou eu que te faço companhia por aí
Os tombos sempre foram um episódio a parte. Imagine uma criatura atrapalhada como eu sou andar por ai de bicicleta. Cair fazia parte do pacote. E ainda faz!

Uma vez cai na areia vermelha do sítio dos meus tios em Sorocaba. E aquela areia não apenas ralou a minha pele branca como penetrou nos poros... Até hoje a área do joelho ainda é meio avermelhada. E isso já deve ter mais de 20 anos! Outra vez na Praia Grande – mais ou menos nessa mesma época – eu cai numa ruazinha cheia de pedrinhas, no asfalto. Ainda consigo lembrar a dor...

Teve uma que fui atrapalhada mesmo, eu atropelei um carro parado. Isso mesmo. O carro estava parado, eu estava andando de bicicleta e olhando para o lado. Quando vi já era tarde demais e dei de encontro com o carro – repito: parado!
Rodo a roda e o tempo roda
A bicicleta sempre fez parte da minha vida e sempre com a bicicleta dos outros! Eu não tive bicicleta até perto dos 20 anos. E quando tive foi presente de um primo mais velho. E se você me perguntar que fim levou esta bicicleta eu não sei dizer.

Eu sou daquele tipo que gosta de alugar bicicleta em qualquer lugar: nos parques de São Paulo, nas praias do Rio, nas ruas de Paris.

Sinto não poder usar como meio oficial de transporte. Em Três Lagoas/MS eu fui muitas vezes trabalhar de bicicleta. Detalhe: bicicleta que ganhei da minha cunhada!

Já fiz um tanto de coisa legal de bicicleta. Conheci lugares lindos. Teve uma trilha que fiz com meu marido em Parati/RJ que foi sensacional! Conhecemos muitas cachoeiras, o centro histórico e no fim paramos num alambique. Aff. Bicicleta com cachaça nunca deu muito certo. Ic!

Sou eu que te levo pelos parques a correr
Aqui em Curitiba é uma coisa meio que necessária. Parece que todo mundo anda de bicicleta. Tem ciclovia pra tudo quanto é lado. Até pintaram uma faixa vermelha no asfalto para sinalizar uma ciclovia aos domingos – quer dizer, nem todo domingo... E nem vou falar muito disso porque a coisa não é muito certa! E domingo passado quando eu vi lá estava eu no meio de passeata/protesto por causa dessa tal ciclovia da faixa vermelho. Cheguei à conclusão que não tenho mais idade para estes protestos. Na verdade eu estava bem feliz por causa da nova faixa para eu poder andar com segurança no meio da rua. Mas o povo todo tava protestando por que ela é curta, porque tá do lado errado da rua, porque deveria funcionar todos os dias, etc. Acho até que concordo com eles. Mas tô fora de passeatas!
E andar de bicicleta aqui é realmente muito gostoso! As ciclovias passam por lugares turísticos, limpos, organizados, seguros e o melhor: a grande maioria da ciclovia está em ótimo estado! A gente roda de 15 a 20 quilômetros beirando ruas, parques, praças e até a linha do trem.

Se fizer sol temos que disputar espaço com os pedestres e com as enormes famílias que andam juntinhas e devagar. Além de cachorros, patins, skates e tudo mais. Tudo bem, isso prova que ela é necessária e que faz as pessoas saírem de suas casas e aproveitarem a cidade, a família, o tempo de lazer. E claro, ainda cuidam da saúde.

Corpo ao vento, pensamento solto pelo ar
Por falar em saúde, não posso esquecer a bicicleta da academia - que não sou muito fã, mas até já comprei uma ergométrica para pedalar em casa, num tempo muito distante lá atrás. É óbvio que não funcionou! A da academia tem música, gente, animação e aquelas deliciosas aulas de spinning. Ai! Eu gosto sim, mas cansa. 

Bom mesmo é andar na rua, com o vento na cara! Sol ou chuva. Frio ou calor. Tem dia que sinto cada músculo do corpo doer, mas enquanto rodo por ai sinto apenas prazer. E uma deliciosa sensação de liberdade. 

Detalhe: hoje a bicicleta é minha, tá bom?! E comprada por mim.

Fica mais uma dica de algo que faz bem para o corpo e para a alma. Animem-se! Andar de bicicleta é tudo de bom!


**Deixo o resto da música do Toquinho para aqueles que também curtem:

Sou eu que te levo pelos parques a correr,
Te ajudo a crescer e em duas rodas deslizar.
Em cima de mim o mundo fica à sua mercê
Você roda em mim e o mundo embaixo de você.
Corpo ao vento, pensamento solto pelo ar,
Pra isso acontecer basta você me pedalar.

Sou eu que te faço companhia por aí,
Entre ruas, avenidas, na beira do mar.
Eu vou com você comprar e te ajudo a curtir
Picolés, chicletes, figurinhas e gibis.
Rodo a roda e o tempo roda e é hora de voltar,
Pra isso acontecer basta você me pedalar.

Faz bem pouco tempo entrei na moda pra valer,
Os executivos me procuram sem parar.
Todo mundo vive preocupado em emagrecer,
Até mesmo teus pais resolveram me adotar.
Muita gente ultimamente vem me pedalar
Mas de um jeito estranho que eu não saio do lugar.

B-I-C-I-C-L-E-T-A
Sou sua amiga bicicleta.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

São Francisco


Acredito que todos tem uma razão para existir. Alguns cumprem esta missão com afinco, outras simplesmente passeiam pela vida, como se nada fosse de responsabilidade delas.

Francisco de Assis foi um cara desses que resolve dizer a que veio. E sem planejamento ou propaganda. Ele resolveu deixar a família, o dinheiro do pai comerciante, o estudo e tudo mais. E viver.

Viver de amor. E mais nada.

Pode ser uma besteira o que vou dizer, mas ele foi um dos primeiros grandes ativistas pró-natureza da Terra. Ele amou e protegeu tudo que tem vida: a grama, os pássaros, etc. E aquilo que a natureza nos oferece para cultivar a vida: a chuva, o sol, etc.

Ele transpirava amor. Amor sem fronteiras, sem razão, sem interesse. Amor por excelência e por opção. Busco todos os dias ter um pouco só do seu amor. Só um pouquinho para que me faça mais paciente, mais flexível. Que destrua os meus medos e receios.

Ele foi um ser iluminado. E que iluminou muita gente desde que resolveu seguir seu caminho. E como todo caminho ele encontrou pedra, buraco, montanha. E também muitos gramados verdes e cheios de flores, terra macia e água fresca. Com os pés descalços sentiu cada um destes caminhos. E seguiu em frente. 

Além de tudo, era o cara mais bem humorado do mundo, ele acordava dizendo: Bom dia Sol! Bom dia irmão! Queria eu poder ter também só um pouco desta gratidão matinal... E meu mau humor pela manhã seria esquecido.

Pra mim, ele é “O cara”. Alguém que me dá coragem, esperança e razão. Eu gostaria de viver mais como ele viveu, mas ainda não evolui tanto assim. Experimento algumas coisas. Tento me doar aos outros. Tento ser atenta ao mundo. Tento ter amor por tudo e por todos. Nem sempre dá certo... 

Recorro a ele todos os dias. E cada dia aprendendo um pouco mais.

Não vim aqui para falar de religião, apenas de um homem. Ser humano como eu e você. Que viveu de amor. Dando e recendo. Só amor. E com isso conquistou o mundo.

Terça-feira desta semana foi seu dia. Oportunidade para lembra-lo, para conhecê-lo. E para nos lembrar de que tudo é possível. E que é possível, principalmente, viver melhor. 

Com amor. Só amor.  

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pés

Nossa, agora que eu vi! São praticamente dois meses sem escrever aqui. Escrever aqui claro, pois tenho escrito muito! Tanto que até doem os dedos. E a cabeça algumas vezes.

Meu corpo teve que se acostumar com a nova rotina. Quase tudo é novo. Até algumas coisas que pareciam velhas, de repente são novas. Parece que absolutamente tudo mudou – pelo menos na minha estreita visão.

E apesar disso continuo me adaptando facilmente a qualquer mudança... Tem dias que o corpo inteiro sente – em cada fio de cabelo, mãos, coluna e pés. Ah, os pés! Me confundo e acho que eles são o centro do corpo. Toda a energia está concentrada neles. E então eles enchem de bolhas, de hematomas e dói. Dói até dar câimbra. 

Meus pézinhos em dia de viagem: sempre pra cima!
Nunca reparei nisso antes – em como meus pés são tão sensíveis às mudanças. Na praia eles sofreram com a areia grossa, afinal minha última parada tinha sido numa cidade tão fria que eu devo ter ficado uns seis meses sem ver o meu pé (tá bom, só via na hora do banho). E dai a pele fina teve criar resistência, novamente. E agora ele voltou aos sapatos – apertados, quentes, com camadas de meias!



E nesse jogo de “tira sapato – põe sapato” são os pés que sentem. E quando eles sentem o corpo todo padece. As pernas não encaixam e a coluna não estica e a cabeça gira. Enquanto os pés gritam...
E como pode uma pessoa que gosta tanto de liberdade nos pés – eu AMO andar descalça! – gostar tanto de sapatos?? E pensando bem, acho que nunca tive tão poucos sapatos... Até porque chinelos Havaianas não contam – e desses eu tenho uns seis ou sete. Gosto tanto de sapatos que até os chinelos entram na coleção! Piração.

Tem gente que gasta dinheiro com celular, outros com comida, algumas mulheres preferem as bolsas. Eu sou dos sapatos. Sou daquele tipo que quando gosto de um modelo levo logo quatro (calma! um de cada cor).
Isso porque meu pé não ajuda manter o vício. Eles são o centro do meu corpo e são chatos – digo chatos no sentido de serem complicados. Pensando bem acho que eles são chatos no formato também. Fora o tamanho errado para o mercado brasileiro: 35,5. E ai o 35 fica apertado e o 36 largo. Pés chatos... 

E no meio de todos estes obstáculos: pés que gostam de ser livre, tamanho estranho, pés chatos (complicados) e chatos (formato) novamente, ainda sim, sou louca por sapatos.

Pés e sapatos que vivem em briga eterna. Mas convivem em harmonia com o resto do meu corpo pesado. Um sistema de acordos em que cada um sede um pouco. Tem dia que os sapatos ganham. Às vezes o corpo vence. E finalmente o dia que os pés reinam. 

Afinal, sem eles eu não saio de casa. E quando eles travam não existe conversa no mundo que os façam mudar de opinião.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Cabelo

Cortei o cabelo! De novo.

Pra quem me conhece sabe que isso não é novidade nenhuma. Meu cabelo deve ser o que mais muda na minha imagem. Eu mudo a cor, o corte e o que mais puder. Por qualquer motivo.

Se tiver um evento eu enrolo. Se mudar de cidade eu corto. Se tá tudo muito parado eu tonalizo. É como uma diversão!

Um dia dá uma louca e deixo crescer. Dura alguns meses. Mas tenho que esquecer que ele existe! E ai é um desespero. Lá no fundo eu gostaria de mudar de cabelo como mudo de roupa. Se tiver uma festa coloco aquele cabelão loiro sexy e o vestido decotado. Se for para trabalhar vamos manter o curto arrumado e reservado junto com o terninho preto - para garantir o respeito. Na balada, porque não um todo repicado e pink?! Meu sonho...

Dizem por ai que as mulheres mudam o cabelo quando trocam de namorado. Pra mim isso é muito sério! E bem real. Porém não é a única razão. Todas as outras razões do mundo são válidas pra mim.

Tenho amigos que fazem aposta de como estará o meu cabelo. Cores e tamanhos.

Ele já foi de tudo. Longo, médio, curto, curtíssimo. Loiro quase branco ao preto - passando por todas as nuances e finalmente vermelho, uma infinidade de tons de vermelho. E todas ao mesmo tempo. E ai quando parece que ficou bom, eu vou lá e invento umas mechinhas. Mechas mais claras, mais escuras ou de outra cor.

Quando me casei perguntei pro meu marido: que cor vc quer no meu cabelo? Ele disse vermelho. Não contente com a resposta eu passei o vermelho. E depois fiz mechas loiras, castanhas e pretas - de uma vez só.

Meu único problema é a falta de paciência com quem faz tudo isso. Na mesma intensidade que gosto de mudar eu desgosto de ir ao cabeleireiro! Tudo demora. E passa a cor e lava e passa a outra e lava e faz mecha e lava e tem um tal que tonalizar depois... aff! Não sou alucinada pelo salão. Às vezes faço em casa mesmo: enrolar, cortar ou tonalizar.

Imagino que sou o sonho de consumo de qualquer hair stylist, chego à frente dele e digo: faça! Tem alguns que até assustam e ficam o tempo todo fazendo perguntas se tá bom ou se é assim ou assado. Não me interessa! Acho que tem medo da bronca, afinal tem tanta mulher que chora por causa de alguns centímetros de cabelo. E ai eu reforço: pode cortar! Ou ainda: pode deixar mais tempo! - quando rola o medo de ficar muito claro. A parte que eu mais gosto é quando vem com uma coisa nova: navalha, máquina, tesoura com dentes, sei lá o que mais.

Talvez tudo isso seja a razão pela minha falta de fidelidade com o profissional. Eu até gosto de alguns. E me mantenho com eles. Por outro lado, sempre aparece uma oportunidade de experimentar outro. E lá vou eu. Atrás do desing, da arte, da criatividade. Do brilho nos olhos daquele que coloca a mão em meus cabelos e deixa sua marca.

Por vezes dá errado. Tudo bem, cresce de novo!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Fissura

Não vou usar a gíria para este caso. Fissura hoje significa que rachei o osso. O osso do pé para ser mais precisa.

Numa caminhada boba e diária com Maria (minha cachorrinha) torci o pé. Buraco de calçada. E eu estava bem devagar. Fico imaginando se eu tivesse correndo... Ui. Deu até pra ouvir o "clek" quando pisei no buraco. Sentei e chorei. Até faltou o ar. Não me lembro de ter sentido dor igual.

Como tudo na vida tem uma razão tenho minha mãe aqui comigo por uns dias. Ela pegou Maria levou pra casa e depois voltou pra me buscar. E ai começou aquele processo de chamar táxi, ir ao ortopedista. Raio-X. Pé imobilizado. Cadeira de rodas. Volta pro táxi.

Relembrei a brincadeira do Saci e fico pulando num pé só. E o resto do tempo tenho que ficar sentada - ou deitada. E o pé pra cima - literalmente com o pé pra cima! Por quantas vezes a gente tem tanta vontade de não fazer nada e colocar o pé pra cima. Quantas vezes pensei nisso: ai, tudo que queria era colocar os pés pra cima... E nunca pensei que pudesse ser assim. E claro que não queria que fosse assim! Mas agora é forçado. Imperativo. Repouso absoluto. Tirar o pé do chão por sete dias (olha o sete ai, gente). Ou até parar de doer.  No momento a dor nem me permite imaginar tocar o chão.

E nem quero pensar na hora do banho! Ai que saco! Pelo menos o pé é mais fácil que o joelho, o braço ou a mão. Mesmo assim, nem quero pensar. Deixa o sofrimento pra hora certa.

Ainda bem que Ju não tá por aqui. Ter que trabalhar o dia todo e depois chegar e ter que me aguentar. Trancada em casa o dia todo e com dor. Uma ótima companheira! Vai sobrar pra minha mãe. Que resolveu me visitar bem agora. Já tô até com pena. Sobe escada. Desce escada. Pega água, trás o remédio. Faz a comida e leva o prato. E por ai vai.

Mais um episódio dessa vida. E dói hoje para dar risada depois. Coitada da Maria que vai ficar sem seus passeios. E da minha mãe, que vai me carregar da cama pro sofá. E do sofá pra cama.

Meu pé tomando um pouco de sol, pra esquentar os dedinhos!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sozinha

Por muitas vezes fico sozinha. Juliano viaja e me deixa só. Pode ser por uma noite, duas ou quarenta. Cada cidade que a gente vai ele tem outra pra ir. Normal. Não reclamo. Já tive que viajar por muitas vezes também. Mas no trecho, quando percebo, estou completamente sozinha.

E minha vida muda totalmente. Meus horários ficam malucos. Não tenho vontade de ir pra cama dormir. Fico sempre até muito tarde vendo um filme - ou dois, ou três. Sinto que a cama não fica tão confortável. No frio então, pior ainda: não esquenta! E cada dia que ele fica longe, mais tarde eu vou dormir. E mais tarde eu acordo. E tudo fica atrasado. O café-da-manhã é as onze, o almoço é as dezesseis. Jantar lá pelas dez ou onze da noite. E ai antes de dormir tem que ter um chá, afinal já passou das duas. Em uma semana minha vida já está de cabeça pra baixo.

Consigo preencher meus dias mesmo sem a rotina de quando ele está em casa. Talvez eu leia mais ou fique mais tempo no computador – com certeza! Cuido mais do meu jardim. Passeio mais com a cachorra. Tem dia que não dá vontade de fazer nada e tem dia que não paro. Aproveito sua ausência para mudar as coisas de lugar - de preferência os móveis da sala ou do quarto. Tiro tudo dos armários e separo aquilo que deve sair. Escrevo. Escrevo mil coisas.

E passeio. Ando por todos os cantos da cidade. Parques. Conheço ruas novas. Visito lojas conhecidas. Vou ao shopping e ao cinema. Vez ou outra ligo pra alguém conhecido e programo uma visita. E vou variando: um dia eu cuido da casa, um dia eu saio de casa, no outro não saio do sofá. Às vezes fico até as duas da madrugada trabalhando e no outro dia não trabalho.

Tenho prazer em ficar sozinha. Divirto-me. Adoro a calma e o silêncio. Gosto de não ter hora pra nada. Trabalho no horário quer quiser. Se der vontade de comer eu como, se der vontade de sair eu saio. Livre. Completamente livre.

E ai começa a saudades da rotina. Saudades do homem que vive ao meu lado e do agito que ele causa quando chega em casa todos os dias.  Sem ele perco a noção dos dias e das horas. Tanto faz se é terça-feira e se já é meio-dia. Responsabilidade zero.

Ele me faz viver melhor. Minha vida sem ele seria uma bagunça. E cada vez que acontece é ainda mais gostoso quando ele volta pra casa. Esse tempo sozinha me faz muito bem, porém melhor ainda é tê-lo em casa. Falando ou dormindo. Em casa.

E ai tudo volta ao normal. A rotina toma forma. Minha vida anda nos trilhos. Visto novamente a roupa da responsabilidade e volto ao mundo dos seres humanos comuns. Comuns e cheios de complicações, de loucuras. Que são necessários para nos dar o mínimo de stress. Um pouco de ansiedade. Que agita o sangue e faz o coração bater mais rápido.

E de repente já é hora de mais uma viagem. E me entrego a mim mesma novamente. Sozinha. Absolutamente só.

domingo, 3 de julho de 2011

Fumaça

Sinto o cheio que vem de fora. Madeira queimando. E não é qualquer madeira, é de lareira.

Vejo a fumaça subindo em direção ao céu de mesma cor. Quase não se vê a diferença dos tons. Chove e faz frio. E assim ambos se revezam - um brigando com o outro para ver quem é mais forte, quem ganha. Dias úmidos e frios. Vidros embaçados.

Entre a cama, o computador, a TV e os livros preencho meus dias. Os banhos são demorados. Gosto de ver o vapor saindo pela porta e encontrando o ar frio. Fumaça. Branca e leve. Que flutua pelo corredor.

Tem também o vapor que sai da xícara de chá. Dentre os diversos sabores escolhidos no Mercado Central, dois ou três sempre são especiais. O cheiro do capim limão. O gosto da camomila. Fumaça com aroma. Que penetra as narinas. Que chega à cabeça e trás lembranças.


Fumaça que sai da boca quando falo. Que evapora das panelas de comida. Do prato de sopa. Do queijo derretido no sanduíche. Do café fresco.

Frio e calor. Toda essa diferença de temperatura que mantem o silencio lá de fora. Não vejo ninguém com coragem para andar na rua. Nem carros. Nem motos. Os cachorros estão em suas camas. E seus donos também devem estar.

Aqui dentro tudo é paz. Escuto apenas a chuva que vai e volta. Sinto apenas o frio que vai e volta. E lá fora só a fumaça sobrevive. Lutando para ganhar espaço entre os pingos grossos. E chegar ao céu.

sábado, 18 de junho de 2011

Nômade

Esta semana me perguntaram por duas vezes como é ter uma vida cigana. E ai, hoje, alguém muito especial escreveu: me ensina a ser nômade? Não sei se posso. Ou se devo. Sei apenas que sou uma apaixonada por esta vida - que tem altos e baixos como qualquer outra.

Pensando nisso cheguei à conclusão que ser nômade é ser egoísta. A gente não pode se importar muito com as outras pessoas. Amo cada alma que ficou. Lembro-me da minha família e dos amigos que deixei em São Paulo e sofro de saudade - um pouquinho, logo passa. Sei que pela maioria das pessoas eu não teria ido embora. Mas não pensei nelas. Não pensei na solidão da minha mãe, no apego da minha avó e na convivência das amigas. Pensei apenas na minha vida. Na minha vontade de deixar São Paulo e viver uma vida mais branda. Juntei o que restava de mim e caí na estrada.

E não levei muita coisa. Viver no trecho não te dá oportunidade de se apegar à nada material. Um sofá que cabe numa casa não cabe na outra. Uma cama também. A bicicleta. O guarda-sol. O armário da lavanderia. Fora aquele monte de tranqueiras que juntamos ao longo dos anos quando moramos num mesmo lugar - não tem espaço nesta vida. Cada mudança é um caminhão de cacarecos que se vão. Vão pra quem precisa. Pra quem vai dar mais utilidade do que eu dei. Se algum dia eu sentir realmente muita necessidade - mas muita mesmo! - eu compro outro. A roupa de verão comprada na Bahia não tem uso diário no frio de Curitiba. Os casacos grossos comprados em Bagé ficaram guardados numa caixa dum armário qualquer na Bahia. E assim vai.

Egoísmo e desapego são palavras que caem bem. Tem outras: solidão, curiosidade, coragem (ou cara de pau?), fé, humildade.

A solidão de chegar numa cidade nova e não conhecer ninguém. Ter que conviver com você mesmo por algumas semanas ou alguns meses, até que as pessoas comecem a te incluir num circulo fechado de amizade. Ter que aguentar você mesmo por algum tempo não é fácil - definitivamente: NÃO É FÁCIL! Tem dia que dá vontade de chorar. Tem dia que dá vontade de correr. E daí que entra a curiosidade. Quando você acha que chegou ao limite da solidão é a curiosidade que te tira da cama todos os dias pra que você conheça coisas novas e reaprenda coisas antigas. Curiosidade de saber quem são estas pessoas ao seu redor. O que elas fazem. Do que elas vivem. Elas vivem! E coragem para poder fazer estas e outras perguntas que vão preencher o vazio e a solidão inicial. Coragem pra largar aquilo que foi construído no último trecho. Coragem para fechar as caixas, separar o que não vai e esquecer o tanto que ficou. Coragem de ir embora e ter fé de que tudo vai dar certo. Acreditar que é o melhor que você pode fazer. Acreditar, simplesmente. E no fim, se nada daquilo que você planejou e acreditou não acontecer tenha a humildade de voltar. Lá no marco zero, no porto seguro - na casa da mãe, porque não?! Colocar o rabo no meio das pernas e começar de novo.

Nômade, cigana, trecheira. Sei lá. Quantas coisas eu aprendi. Quantos lugares eu conheci. Quanta gente eu encontrei. Coisas, lugares e pessoas que dançam dentro de mim. É isso que carrego comigo. É isso que enriquece minha vida. Que faz o sangue correr nas minhas veias. Não vou mentir: dá trabalho, é estressante. Machuca. Eu engordo. Perco sono. Ou o apetite. Mas tudo isso também aconteceria comigo em São Paulo - acho até que com mais frequência que no trecho. Lá naquela vida morna. Cheia de rotina.

Dizem por ai que a rotina é o segredo da vida longa. Será? Não pra mim. A rotina me esmaga e quando ela começa e tomar conta de mim é hora de ir embora. De novo. Não sei por quanto tempo. O próximo trecho sempre pode ser o último. Mas é assim que eu vivo. E depois que acostuma a gente sente falta - parece droga que vicia. Não sei se já nasce com a gente ou se apenas floresce. Mas é um dom. Ou um defeito de fabricação? Um jeito de viver que incomoda uns e assustam outros.

E pra quem perguntou eu digo: se joga! Deixa acontecer. Não exagere nos planos. Não fique triste se eles não se realizarem como você gostaria. E não se preocupe porque sempre dá certo!

Vai. Junte duas ou três coisas importantes e siga seu caminho.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Miau

"Hoje Miau foi pro céu dos gatinhos". Assim minha mãe me deu a notícia.

Ela nasceu no carnaval e nos deixou no dia de Santo Antônio. Datas tão especiais como a gata que me deu tantas alegrias. Companheira de cama de muitas noites. Companheira de brincadeira de muitas tardes. Companheira de sol de muitas manhãs.


Ela chegou em casa logo depois que meu pai morreu. Eu e meu irmão ainda estávamos meio perdidos e ela veio para nos dar um pouco mais de sentido. E lembrar que cada vida que vai tem sempre outra que chega. E assim o ciclo continua pra quem permanece na Terra.

Miau nome engraçado e óbvio. Mas era assim que ela atendia. Tentamos dar outro nomes pra ela. Não adiantou. Só olhava se fosse Miau.

Focinho preto. Olhos azuis. Siamesa de gênio animal. Felina. Brincalhona. Irritadinha. Gostava de brinquedinhos - fitinhas, bolinhas e tudo mais que se mexia. Caçadora de pequenos insetos. E encarava qualquer cão maior que ela. Abusada. Cheia de vida e de energia. Pulava muros, desaparecia no cio. E voltava pra casa. Sempre voltava.

Guerreira. Passou por um câncer há dez anos. Sobreviveu como se nada tivesse acontecido. Teve um AVC há quatro anos e seguiu como se fosse apenas um tropeço. Teve muitos filhotes.

Teve uma vida de rainha. Ração importada. Sardinha. Água fresca. E de fresca ela não tinha nada. Adorava iogurte de morango, brigadeiro e presunto. Saia de qualquer canto quando sentia estes cheiros.

Dizem por ai que gato é estranho, independente e distante. Miau era o oposto. Adorava colo, carinho, amizade. Brincava de de esconde-escode, pega-pega. As vezes parecia cachorro, as vezes gente, as vezes fera. Mas era gato.

Foi ficando velha. Perdendo os dentes. Perdendo o brilho. Ganhando paciência. Tranquilidade. Teve o respeito dos filhotes que mesmo depois de velhos e crescidos ainda abaixanvam a cabeça e o rabo quando apareciam em casa. Era a dona da casa.

Eu e meu irmão saimos de casa e ela ficou lá com minha mãe. Porém cada vez que aparecíamos ela nos aceitava como se fosse vista todos os dias. Ainda me dava um beijinho quando me via. eu pega ela no colo e dizia: me dá um beijinho? Ela encostava o focinho no meu rosto e dava uma lambidinha. 

Sumia nas festas. Aparecia quando alguém novo ia em casa. E adorava cutucar quem não gostava de gatos! Nos ultimos anos o peso da idade caiu sobre seus pelos. Comia pouco. Brincava pouco. Dormia muito.

Não sei se foi o frio ou a idade, mas não resistiu. Subiu ao céu como um anjo. Sem dar trabalho. Dormindo no quintal. Sob o sol que tanto gostava.

Vinte e um anos de vida plena. Vividas com toda a intensidade que um gato pode viver.

Dia triste. Dia de luto. Mais um pedaço de mim que se vai. E que deixa em mim a marca dos amados.

Domingo

O Domingo, por fundamentação bíblica, é considerado o primeiro dia da semana. É um dia de descanso para a maioria das pessoas no mundo ocidental. Povos antigos reverenciavam seus deuses dedicando este dia ao astro Sol. Daí outras denominações para este dia, em inglês temos Sunday, e no alemão Sonntag, com o significado de "Dia do Sol". Isso me dá uma enorme desculpa para gostar tanto do domingo.



Domingo é assim um dia que eu adoro. Acho que por causa dessa tradição de almoço de domingo na casa da vovó. Desde pequena o domingo era o dia do agito. Além do descanso. O almoço nunca era em casa. E se fosse era uma festa.

O domingo até hoje é especial. Nada é comum no domingo. A gente não sabe o que fazer, nem tem hora pra acordar e nada é muito planejado. O objetivo é sair da rotina. É um dia ótimo para conhecer um lugar novo. E também para relembrar um lugar antigo. Dar uma volta num parque. Entrar num museu. Visitar um tio. Encontrar um amigo.

É um dia para esquecer o trabalho - quando a gente não tá trabalhando. Para fazer coisas gostosas, interessantes. Que nos faça lembrar que viver vai além da nossa rotina diária. Mesmo que seja um dia frio e fique o dia todo vendo filme, lendo um livro ou jogando vídeo game.

O domingo é dia preguiçoso. E curto. Mesmo quando começa cedo. Lá em Mucuri/BA a gente ia pescar às seis da manhã. Ou então tomar banho de mar. O sol era tanto logo cedo que não dava pra ficar muito na cama - o ar condicionado não dava conta do sol batendo na janela e esquentando o quarto. Em Bagé/RS a gente corria para o Uruguai - para dar tempo de almoçar lá, fazer umas comprinhas e voltar antes de escurecer e esfriar. Três Lagoas era a beira do rio. Juntava uns dois ou três - ou até uma centena, dependendo do evento - e ia todo mundo pra beira do rio. Tomar banho de água fresca, comer fruta do pé e fazer churrasco, muito churrasco.

Aqui em Curitiba é cidade grande. Com hábitos diferentes e temperatura incerta. Se o tempo for bom o ideal é dar uma caminhada num parque. Num dos inúmeros que existem. Um em cada bairro. Pequenos ou grandes. Fechados e abertos. Com ou sem lago. Com ou sem bosque. Com o sem centro cultural. O que importa é ter espaço. E de preferência o sol. Muito sol!

A hora do almoço também tem que ser diferente. Um restaurante de comida diferente, um pick nick, um churrasco no quintal. Com a família, com  os amigos. Ou só nós dois mesmo. É o dia que dá vontade de fazer a massa do macarrão - já que nada tem pressa. De tomar uma cerveja antes do almoço. De dormir depois do almoço. De tomar café da tarde numa padaria ou na casa de alguém. De comer lanche no jantar.

É o dia de esquecer o relógio. Esquecer das contas pra pagar. Esquecer dos problemas de todos os dias. E de lembrar-se da gente. De dar importância aos nossos pequenos prazeres. De estar perto de quem a gente gosta. De demonstrar cuidado e carinho.

Dia de corrida de fórmula 1, dia de jogo de futebol, de programa do Silvio Santos. Dia de ir à missa. De agradecer. De ligar pra mãe - ou pro pai. Dia de sentar na varanda e não fazer nada. Olhar com atenção para o céu. Ou simplesmente olhar para o céu. Dia de treinar a paciência no trânsito ou na fila do restaurante. No estacionamento do parque ou no caixa do mercado.

Aproveite o domingo para recarregar as energias pra semana. Descase. Divirta-se. Cuide de você. Levante da cama e do sofá com a proposta de ser feliz. E faça aquilo que te deixa feliz. Porque logo acaba. E quando acaba a gente já espera pelo próximo.

"Domingo eu quero ver o domingo passar
Domingo eu quero ver o domingo acabar
Domingo eu quero ver o domingo passar
Domingo eu quero ver o domingo acabar
Até o próximo, até o próximo, até o próximo domingo
Até o próximo, até o próximo, até o próximo domingo"*

*Titãs, música: Domingo. Composição: Toni Bellotto e Sergio Brito.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Morretes

Morretes é uma cidadezinha dessas que a gente acha que só existem em filmes e livros. Ela fica entre a montanha e a praia. Cercada de natureza, de história e de gente feliz.

Há dois meses ela estava debaixo dágua. Destruída. Excesso de chuva que veio serra abaixo inundou o rio Nhundiaquara que corta a cidade. Devastação. Nem parece. Tudo passou rápido e a acidadezinha continua a toda.

No centro tem um coreto, um rio cheio de pedras e uma feirinha de artesanato da região. Os restaurantes servem comida abundante - daquele tipo que se paga X e come até cair. Cardápio simples: barreado e peixe frito. O tal do barreado é um conto a parte, pois tem toda uma tradição de horas cozinhando e depois mistura com a farinha e com a banana. Enfim, um daqueles pratos que a gente tem que experimentar sem mesmo gostar. Se não fosse o exagero de cominho eu bem que encarava, mas meu corpo não tem acordo com o cominho. Em resumo, barreado é uma carne de boi cozida até desmanchar. Com muito cominho. Me salvei como peixe frito. E depois com a banana cozida com canela, açúcar e sorvete de creme.


Tá, a gente não foi até lá só pra comer. A cidade é apaixonante. Tem um quê de Parati, no Rio de Janeiro. E outro quê de qualquer cidade pequena e antiga de Minas Gerais. Poderia ser também alguma coisa de São Luiz do Paraitinga, em São Paulo. Sabe, ruas de pedra, casarões antigos. Cachaça e boa comida. Hospitalidade e história. Natureza e aventura.

É um daqueles lugares que vc vai para namorar e ficar sentada olhando o rio. Ou então vai pra descer o rio de bote e fazer trilha de bicicleta. Dá pra fazer tudo ao mesmo tempo também. E no final da noite sentar na cara da lareira, tomar vinho e dormir em paz.

É pequena, porém tem uma série de monumentos - igrejas, pontes, marcos - que contam a história do lugar. E tem outras pequenas cidades em volta que também devem ser visitadas e apreciadas: Antonina, Porto de Cima, Paranaguá, Ilha do Mel. E dá pra entrar nos engenhos de aguardente - pra quem gosta.


Chegar lá já é um passeio incrível. A Serra da Graciosa dá o tom. Tem o portal, a mata, a estrada estreita, o infinito número de cascatas e bicas, pontes duvidosas, mirantes sensacionais. Dá vontade de parar a cada quilômetro. E ai de repente vc dá de cara com esse vilarejo. Parece pintura de quadro da Praça do Embú das Artes/SP. Também dá pra ir de trem. Um dia lá atrás na minha infância eu fiz este passeio. Não me lembro de muita coisa, só de um penhasco que dava medo. Quero fazer novamente - dizem que é estonteante.

São apenas sessenta e dois quilômetros de Curitiba. Dá pra ir até lá, almoçar e voltar. Ou curtir o fim de semana. Pelo menos é mais quente que Curitiba! Quando tem sol...

Amei! Amei o clima, as pedras, o rio, o artesanato de fibra de bananeira, as lojas de pedras brasileiras, o café com doce de laranja, a aguardente de banana, a primavera florida na rua da igreja, o coreto animado no domingo a tarde, os restaurantes na beira do rio, o peixe frito, a roda dágua, a igreja velha, o pipoqueiro na praça, os namorados na ponte, a ponte velha, a estrada florida.

Alimentos para o espírito. O corpo relaxa. A alma floresce. E a cabeça agradece.

Mais uma cidade. Mais uma história. Mais uma cultura.

#ficaadica.

Para saber mais: www.morretes.com.br