segunda-feira, 9 de maio de 2011

Recordações

Ontem foi um dia cheio de recordações. E de emoções. Lembrei de um tempo que não volta mais. Que deixa cicatrizes profundas. Daquelas que vc olha e lembra-se de cada detalhe do que aconteceu. E te faz sorrir.

Tenho uma parte da família da minha mãe que mora aqui em Curitiba. Essa é uma das coisas que me faz ficar tão confortável por morar aqui. Gosto muito destes laços de família. Apesar de muitas vezes não parecer... Acabo sendo displicente e desligada. Não dou notícia. Esqueço dos aniversários - algumas coisas são um saco mesmo. Por outro lado adoro a convivência. A bagunça, a segurança. Poder ser quem vc é. Falar o que pensa.

Já contei alguns episódios aqui sobre os primos, as festas e os domingos. E eu realmente tenho um orgulho enorme de pertencer a esta família. Tem sim um monte de gente louca, afinal é uma família bastante normal. E assim tudo fica divertido. Ter um pedaço desta família por perto me deixa feliz. Ainda mais quando representa uma parte importante da minha vida.

Passei o dia de ontem com esse pessoal que mora aqui. Este que chamo de tio é na verdade primo de minha mãe por parte de pai, ou seja, o pai da minha mãe e o pai do “tio” eram irmãos. Pra mim eles sempre foram tão próximo que eu considero mesmo como um tio. E tia. E meus primos. São três filhos. Mais ou menos entre a minha idade e a do meu irmão – que é seis anos mais velho que eu. Vivi muitas férias ao lado deles. Eram férias especiais. Cheia de aventuras. De lugares novos. De experiências. Um pouco desse sangue cigano que tenho vem daí. Diz minha mãe que eram férias com pouco planejamento. Pouco dinheiro. Na minha cabeça nada disso faz muito sentido. Lembro apenas do sol forte, do sorvete gelado. Dos hotéis, das cidades e dos restaurantes. Das praias. Da água do mar. E da cama pra dormir.

A gente entrava no carro e seguia. Meio sem rumo e sem destino. Parava num lugar, dormia, conhecia algumas coisas e segui novamente. Eram dois carros, duas famílias e um objetivo: férias. Viajar. Conheci muita coisa que nunca mais esqueci. E tenho lembranças tão vivas em minha mente que parecem que aconteceram ontem. E já tem mais de vinte anos.

A gente colocava as coisas no carro. Tudo ia naquele carro. Parávamos no meio do caminho para fazer um lanche. Encostava o carro debaixo de uma árvore da estrada e ali lanchávamos. Meus pais deviam ter de tudo naquele carro. A garrafa térmica azul com água. Travesseiros. O conjunto de malas vinho. No tempo da Belina eu ia dormindo lá atrás, em cima da bagagem - que loucura! Cabia direitinho deitada. Eu e os travesseiros.

Cada cidade tinha um museu, uma igreja, um monumento, um rio, uma história, uma comida típica. Os frutos do mar. A pizza de coração de boi. O frango com macarrão. Cheiros e gostos. O sono e o cansaço na hora do jantar. O café-da-manhã na padaria. Tudo muito simples.

Descobrimento. Conhecimento. Vivência. Lições que nenhuma escola pode ensinar. Momentos que ninguém pode tirar de mim. E um milhão de fotos.

Lembro das dunas e da lagoa de Floripa. Do sol rachando a cabeça e queimando os pés. Lembro das quedas de Foz. Lembro da casa de madeira de Bombinhas. O carro de boi que passava toda manhã. As hortênsias florindo na serra gaúcha. Lembro do carnaval de Jandaia do Sul: meu primeiro baile no salão. Do pôr-do-sol tardio de Porto Alegre. Dos almoços das estradas. Fartos e barulhentos. Da falta de quarto dos hotéis e da combinação que a gente fazia para dormir: meninas num quarto, meninos no outro, cada casal no seu. E meu avô e minha avó sempre pegavam uma pontinha nessas insanidades.

Tudo isso acabou quando meu pai morreu. Meu pai e meu tio eram companheiros dos botecos dessas viagens. Muitos anos depois da morte de meu pai fui passar férias na casa dele e ele me contou assim: "Voltei em Bombinhas, sentei num bar que eu já tinha ido com seu pai. Lá na ponta da praia. Pedi uma cerveja e dois copos, como sempre fazíamos. Enchi os dois. Tomei o meu e deixei o dele lá. Pra ele. Paguei a conta e fui embora".

Coisa de gente louca? Não, coisas de família. De um amor inexplicável. Que sinto cada vez que me encontro com eles. Que tem a vida repleta de recordações. Aventuras de um povo feliz. Com histórias pra contar. E de amor pra dividir.

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