quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal


Festa de família. Mesa farta. Muito barulho. Dormir tarde. Árvore enfeitada. Muitos presentes. Lembranças de Natal.

Meu primeiro Natal fora de casa foi em Três Lagoas. Depois de mais de 30 anos seguindo a mesma tradição, pensar num Natal longe da minha família era de partir o coração. Mas a gente aprende que os amigos que fazemos durante a vida são tão amados quanto a própria família. E que uma festa de Natal pode ser completa se for rodeada de companheirismo, felicidade e coração aberto.

Acho até que o Natal fora de casa foi mais divertido. Pelo menos durou mais tempo - começou no dia 23 e acabou no dia 26. E a agenda foi apertada. Primeiro juntamos uns casais perdidos e depois pensamos na comida e dividimos os afazeres. E ai inventaram de assar um leitão... Como morávamos num local de muita criação foi fácil achar o bichinho do tamanho necessário. E ai começou o Natal.

No dia 23 foi todo mundo lá pra casa com o motivo de temperar o porco. Eu nem cheguei perto dele, pois tenho pena - até dói só de ver. E para acompanhar já rolou uma cerveja e uns petiscos e foi dada a largada para o Natal. O povo saiu de casa já era madrugada do dia 24. Bem, como nossa casa tinha churrasqueira ficamos encarregados de assar o porco. E passamos o dia 24 por conta disso. E de vez em quando aparecia alguém lá em casa para "dar uma olhada" e acompanhar o processo, quase emendou com a festa oficial. E cada um que chega já vai tomando uma cerveja. O calor em Três Lagoas era de matar, na cara da churrasqueira então... aff! E fui fazer o resto das compras e encontrei a mulherada da festa na rua, mas tinha que correr porque ainda precisava fazer uma sobremesa e lavar as frutas.

E assim a noite do dia 24 chegou rápido. E nos encontramos na casa de outro casal, que tinha um quintal maravilhoso, fresco e espaçoso. Fizemos a nossa oração e a nossa festa! Depois de muitas horas nem preciso falar que sobrou um monte de comidas e no dia 25 o café da manhã já foi de festa. E o almoço virou café da tarde e a festa do dia 25 só acabou quando acabou a comida. E ai veio o dia 26, como era final de semana voltou todo mundo pro mesmo lugar e o resto do resto da festa foi complementado com um belo churrasco.

E assim foi. Deu até pra esquecer a tristeza de estar longe da família. A festa da casa da minha avó ficou o tempo todo no meu coração. Entre os cheiros, os sabores e as sensações. Porque Natal é assim: comida, bebida, orações, presentes, risadas, música. E entendi que uma festa de Natal está dentro da gente e que cada um faz a sua, não importa o lugar nem as pessoas.

Este ano será o segundo Natal fora de casa. Espero poder por em prática o aprendizado passado e que Deus nos abençoe em mais um ano. Que venha a festa!!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

William Shakespeare

Li este texto hoje e fiquei ainda mais apaixonada pelo escritor. Sábio e atemporal. Divido com vcs.

Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam.
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam,
mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para, para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar, que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!

William Shakespeare

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Pizza

Sou paulista. Apesar de ter perdido muitas das características da cidade, São Paulo ainda é meu berço. E tem alguns hábitos que são especialmente difíceis de mudar. Um deles é a pizza.

Umas das coisas que me conquista quando chego num trecho novo é a pizzaria. É uma atração imperceptível no momento de chegada, mas - pelo que me lembro - em toda cidade que chego o primeiro restaurante que nos dá as boas-vindas é a pizzaria. Acredito que é uma comida que por pior que seja dificilmente será horrível. Já comi muita pizza ruim, porém nenhuma que fosse intragável. E mais que um hábito, vejo a pizza como tradição.

Lembro-me das viagens que minha família fazia enquanto eu era ainda muito pequena e a pizza sempre aparece. Lembro-me em casa, minha mãe fazendo a massa e eu ajudando a rechear. Lembro-me adolescente dividindo uma pizza com o pessoal da rua - no Habbib´s - na primeira vez que saímos sem os pais. Lembro também da pizza da faculdade que matava a fome e dava energia para a jornada da noite. As pizza - dúzias de pizzas - pedidas nos encontros para jogar truco e beber cerveja. Aquela pedida no trabalho e devorada sobre o computador. A pizza cortada "a francesa" (em quadradinhos) para ser comida como tira-gosta enquanto jogamos Imagem e Ação. A pizza solitária enquanto meu marido viaja ou trabalha.  A pizza das reuniões nas pizzarias - incontáveis pizzarias.

Trabalho, doença, casamento, aniversário... Tudo é motivo, desculpa, razão. Companheira de todas as horas. Divide alegrias e tristezas. Cansaço, mal humor. Risadas e palhaçadas. Corre numa paralela sem interferir no que acontece. E nos nivela como seres humanos. Comemos com as mãos ou não. Pagamos uma pequena fortuna ou não. Não conheço quem nunca tenha comido. Do resto de pizza embrulhado na pizzaria que é deixada para um morador de rua e da pizza de grife, com chef especializado e recheio que vale ouro.

Ela não tem erro. E não tem dia, quero morrer quando encontro uma pizzaria fechada na segunda-feira - quem é que inventou isso?? Ela nos salva nos momentos de aperto, nos conforta na hora da fome. E nem quero falar dos seus sabores - que cada um tem o seu e já inventou pelo menos mais um. Salgada ou doce. Na pedra,  na grelha, na brasa, no microondas, no forno do fogão da cozinha ou do quintal. Direto da geladeira (ai ai). Fria no café-da-manhã. Cura a ressaca, conforta o corpo, alimenta o espírito. Pizza tem história, tem vida.

Em Três Lagoas tinha a pizzaria no fundo quintal duma casa, com mesas e cadeira de plástico, cerveja gelada a céu aberto e na rua da igreja. Em Bagé tinha a pizza do casarão antigo - em frente à igreja matriz, também -, acompanhada de vinho tinto, quadrada, ou melhor, vendida por metro e feita no forno elétrico. Aqui em Mucuri tem uma pizzaria de um paulista que além de ter pizza boa o ambiente é uma delícia: o local é todo construído com material de demolição e responsabilidade social. Tijolo e madeira harmonizam com as árvores que foram mantidas no terreno. Mesas e cadeira feitas com restos de madeira e pedra. Paixão a primeira vista. Foi minha primeira refeição em Mucuri e sei que será a última.

Seguindo a tradição, além da primeira refeição, toda última refeição quando deixamos uma cidade é essa pizza. De preferência em casa para a Maria poder comer um pedaço. E assim nos despedimos de mais um trecho, para poder inaugurar o próximo com o mesmo glamour, a tal da pizza.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Planos

Assim como a maioria das pessoas normais eu também faço planos. Algumas vezes vou até um futuro distante de cabelos brancos e pele enrugara, outras  fico logo ali no Natal ou no próximo mês.

O trecho não permite que muitos destes planos sejam executados - acredito que muitos planos por ai não são, mas a média no trecho deve ser maior. As informações vem e vão numa velocidade considerável e mal dá tempo de assimilar a primeira idéia e a segunda já vem para derrubá-la depois a terceira e a quarta, e a quinta, sexta... Uma festa de Natal, por exemplo, pode ser rearranjada por dezenas de vezes e chegar no dia e ainda mudar tudo.

Com o tempo a gente acaba acostumando com esta instabilidade e também se acostuma a perder um final de semana pago numa pousada, uma festa de aniversário e coisas assim. Nem tudo é tão ruim, afinal se as coisas boas mudam, as ruins também. 

E é inevitável não imaginar a próxima cidade, a próxima casa, a próxima obra. Assim construímos castelos no ar - uma vida inteira no ar. A internet ajuda bastante e trás mais informações do que gostaríamos de saber. Chega a cansar. Na iminência de mudança a curiosidade toma conta e a busca principia. E os planos vão crescendo, se acumulando.

É muito divertido quando eles se concretizam - ver aquela praça da internet, a casa daquela foto, curtir a praia que tanto ouvimos falar. Ou não. Mudar tudo de uma vez e começar de novo. São ciclos, altos e baixos. Ansiedade que vai e volta. Alguns planos podem ser realocados e transferidos, outros somem no ar - da mesma forma que foram feitos. 

Acho até que parei de fazer planos para a velhice. Passando tanto tempo fazendo planos para daqui a pouco que aqueles mais distantes ficaram esquecidos. Preciso volta a fazê-los. Pensar mais no meu futuro distante e deixar o futuro próximo mais solto, mais a mercê do destino e tentar não controlá-lo tanto, afinal ele pode mudar a qualquer momento.

Mas e ai, fazer ou fazê-los? Vida de trecho é assim, a gente se joga e deixa levar. E depois colhe os frutos.  

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cachoeira

Eu dava uma mordida no meu pedaço de pizza na sexta-feira à noite quando ouvi a proposta: Vamos numa cachoeira no domingo? Minha resposta foi outra pergunta: Moramos numa região extremamente plana, como pode ter uma cachoeira?  E lá fomos nós.

Em qualquer lugar entre Bahia e Minas Gerais, depois de uns cincoenta quilômetros de asfalto, mais uns trinta de terra, umas quatro ou cinco pontes de madeira (meio bambas), muitos buracos, fazendas e mais fazendas de eucalipto e finalmente três porteiras e cinco reais para a dona e chegamos ao local combinado. Bem, não é assim uma cachoeira, porém levando em conta a tal da planície que moramos, até que é um rio bem agitado. Com direito a pequenas quedas d’água, pedras, correnteza, árvores ao redor e tudo mais.  

Montamos acampamento. Cadeiras, mesas, churrasqueira, caixas com cerveja, água. Bicicletas, cachorro, crianças, colchão de ar, rede para deitar. Protetor solar e repelente. E lá se vai mais um domingo no trecho. Lugar diferente, gente nova. Assuntos diversos. Risadas, muitas risadas.

E não tem lugar para a frescura. Estamos no meio do mato. Pequenas casas espalhadas ao longe, alguns cavalos que passam. O cheiro do mato e da carne assando se misturam. O som do rio correndo e das risadas se escuta de longe. E assim as horas se estendem. A água fresca que vem da mata lava o corpo e a alma. O sol quente brilha na correnteza, trás um espetáculo aos olhos. Fica nos meus pensamentos que essa paisagem é particular, que este pedaço de paraíso pertence a alguém. Chego a concordar com o valor cobrado na entrada – afasta os mal intencionados.
Hora de ir, o sol começa a dar sinais de que vai embora. O repelente começa a perder na guerra entre os mosquitos locais. A cerveja acabou e a carne também. Todo o lixo é recolhido e todos trabalham como pequenas formigas catando, limpando, guardando, fechando. A volta é longa, mas reconfortante. E o domingo termina com banho gelado no chuveiro do quintal.

Só não foi perfeito porque meu time não ganhou o campeonato! Acho que a culpa foi minha, não consegui trocar a cachoeira pelas horas de torcedora na frente da TV. Coisas do domingo. Que venha o próximo!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Afilhados


Na verdade é apenas um, mas como ele tem um irmão gêmeo podemos considerar logo os dois.
Desde que saí de São Paulo meu contato tem sido cada vez menor e as minhas “obrigações” de madrinha tem sido cada vez menos praticadas. E eu sofro por isso. Cada foto que vejo, cada notícia que tenho é como se meu mundo caísse por não poder acompanhar todos os episódios. Até parece exagero, mas não é. Sinto muita falta.

Mesmo com a pouca convivência tenho paixão por eles. E eles são dois meninos muito lindos – e não é porque sou madrinha. Eles são educados, tranqüilos e lindos – não canso de repetir. O pai deles é meu primo, que tem mais ou menos a minha idade e crescemos praticamente juntos. Os pais dele - ou seja, meus tios - são meus padrinhos. E ai a coisa fica mais interessante. Eu realmente gosto demais daquela família. 

No fundo eu gosto de todos do mesmo jeito: tios, primos, etc. Sinto muita falta de todos também... Estou assim porque vi as fotos da festa de aniversário da minha avó – da qual eu não estive presente, né?! Mas aqueles dois meninos são especiais pra mim e o pior, estou perdendo a convivência com eles.

Tudo é complicado, pois eles também moram fora de São Paulo e quando estou lá nem sempre consigo um dia para poder vê-los e aí o tempo vai passando... Passa tão rápido para as crianças. Eles crescem numa velocidade que está além da minha capacidade de entendimento. Quando eu dava aula para os meninos (as) da idade deles eu me impressionava com o desenvolvimento em tão pouco tempo. E eu sei que me afastar deles nesta idade me deixa cada vez mais distante de suas vidas futuras.

Entrar neste mundo não é muito fácil e não depende da gente, eles é que dão o tom. Se uma criança não se identifica com você por algum motivo é complicado ter qualquer tipo de relação com elas. Mas quando eles são tomados pela confiança e pelo amor... É como mágica! Não existe amor mais sincero, mais puro. É o sorriso que se abre, o beijo de verdade, o abraço com vontade e dar a mão por necessidade. São pequenos, mas são enormes. São criativos, vivos, intrigantes. Cada um tem sua criação, seu sofrimento, suas manias. Tão pequenos e tão fortes.

Vejo as fotos deles e sinto cada uma destas coisas. Tão iguais e tão diferentes. Os dois lembram demais o pai deles – cada um a sua maneira. E pra mim isso é ainda mais forte, já que me lembro do meu primo numa idade bem próxima à deles. E mesmo por foto é possível reconhecer traços de personalidade de cada um deles. A maneira como os braços do pai ficam ao redor de cada um. Os olhos que falam. A falta dos dentes na boca. A altura. Tão iguais e tão diferentes do pai...

Amo calada. De longe. Peço à Deus que os proteja, que os mantenha felizes e amados. Sei que estou em falta. Ainda vou reverter isso. Um dia.