sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Bingo

Tem coisas nessa vida que definitivamente eu não nasci pra fazer. Eu até faço, mas sem vontade nenhuma. Viver numa cidade pequena tem seus momentos de puro deleite, porém para sobreviver às redes sociais - destas mesmas cidades - tem que ter muito molejo nas cadeiras. É um tal de chá da tarde daqui, de festa pra arrecadar dinheiro dali e não poderia faltar o bingo. O bingo sozinho já não é lá das dez coisas mais interessantes que existem para se fazer, ainda cercado de um monte de mulheres de poucos afazeres fica menos atrativo ainda. E quando as mulheres falam tão alto que não se consegue nem ouvir o número sorteado do bingo é pra acabar comigo.

Tá, eu sei, eu tenho alguns problemas de relacionamento – é uma ótima explicação! A sensação que tenho é que sou a única que não relaxo e me divirto nestas reuniões. O papo é sem graça, a comida é horrível e os prêmios piores ainda. Eu juro que vou de coração aberto e faço realmente para ajudar – afinal era para arrecadar dinheiro para as criancinhas... Na maioria das vezes é melhor dar o dinheiro e ficar em casa, ou na rua, ou na praia, ou na piscina, ou passeando no centro da cidade ou sei lá aonde. E aí vc tem que arranjar uma ótima desculpa, porque numa cidade pequena nada se faz sem que pelo menos uma meia dúzia de conhecidos fiquem sabendo. 

Uma das coisas que me preocupa é que a maioria das mulheres chega num momento da vida que só fala de novela, marido, casa e filho. É a empregada que dá trabalho, o filho que não dorme o marido que não dá atenção... Eu vivo em outro planeta. No meu, não existem filhos, minha casa é uma delícia, minha empregada só me ajuda e meu marido é uma maravilha. Claro que nada é assim tão perfeito, mas será que a gente pode mudar o assunto? Eu quero falar sobre o Rio de Janeiro, sobre música, cinema, sei lá. Vamos falar mal de algum político ou de alguém conhecido? Contar histórias engraçadas, que tal? Quero diversão!

Lá em Três Lagoas o povo da cidade dizia que eu era “refinada”, “descolada”, “moderna” e que às vezes não me convidavam por vergonha, mas eu cheguei à conclusão que quem mora numa cidade grande é mais bicho do mato do que o povo daqui. Nós fomos criados num mundo muito maluco, em São Paulo todo mundo faz o que quer sem ser muito analisado e criticado. E não tinha essa coisa de um viver na casa do outro e se conhecer na rua. Fomos programados para nos proteger e para não nos preocuparmos com a vida dos demais. E a gente só se junta quando realmente se gosta ou então quando é pra fazer festa.

Fora a guerra fria que existe por causa da sua aparência - até parece a Inglaterra (rs). Tanto lá no Mato Grosso do Sul como aqui na Bahia o calor é de arrasar e mesmo assim a mulherada vive de calça jeans, maquiagem e salto fino. Eu não entro numa calça jeans, a minha maquiagem derrete e é impossível andar de salto fino na grama, na terra ou na areia. A desculpa delas é que sou “atualizada”, “globalizada” - no fundo mesmo eu não aguento! Acho que elas é que tem vergonha de mim por aparecer de rasteirinha e vestidão ou ainda pior, de bermuda boyfriend e blusinha de alça...

E eu que sou a estranha. Sei que tenho um estilo pouco convencional e nunca me senti mal por isso. Não sou escrava de nada: nem da moda, nem da sociedade. Sou única, assim como todos são, porque tenho que usar a mesma fantasia que todo mundo? Eu fico com a minha, obrigada. (Para quem não me conhece, até parece que sou uma louca revolucionária. Não, sou apenas eu mesma.)

Não vivo reclamando de tudo por ai, só que tem dia que o desabafo é necessário. Afinal tem coisas que realmente me irritam. Chá quente é pra quem tá doente – como diz meu marido. Ou então para as tardes e noites fria, debaixo do cobertor, assistindo TV. Não para o clima da Bahia – com o sol na cabeça e a areia nos pés. Ainda se o chá fosse gelado... E mais, o que gosto mesmo é de tomar cerveja num boteco. Jogar truco. Falar besteira. Dar risada. E não deixo de ser mulher por isso. Posso?

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